Já entramos na segunda metade do mês de março, mas, para Hollywood — que é considerada a maior indústria de cinema do mundo — o ano ainda está começando. É exatamente nesse período que algumas divisões dos estúdios começam a colocar em estágio de pré-lançamento os filmes que entrarão em cartaz entre junho e setembro, o verão norte-americano e época das maiores bilheterias. Já outros departamentos se preocupam com a pós-produção de todos aqueles projetos que deverão estrear entre novembro de dezembro, quando se inicia a corrida pela temporada de premiações. Com uma variedade tão grande de filmes, a pergunta que muitos fazem é: de onde surgem tantas histórias? E a resposta é simples: dos livros.
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Antes mesmo das livrarias, os produtores de Hollywood são os que primeiro adquirem os direitos autorais dos principais autores — já publicados ou, em alguns casos, livros ainda sendo escritos. Adaptações cinematográficas de conteúdo literário são a maior fonte de inspiração para os filmes produzidos em Hollywood e, desde o surgimento das plataformas de streaming, também para a produção das inúmeras séries lançadas todos os anos. A adaptação dos livros fornece uma gama de narrativas ricas e bem estruturadas, além de permitir que uma boa parcela do público tenha acesso a histórias que, de outra forma, permaneceriam restritas ao universo daqueles que têm o hábito da leitura. O processo de adaptação dos livros para o cinema tem sido essencial para a formação cultural, fazendo com que clássicos da literatura tornem-se acessíveis ao grande público.
Registros indicam que o primeiro filme baseado em um livro foi The Squaw Man (1914), dirigido por Cecil B. DeMille e Oscar Apfel. Tratava-se de uma adaptação do romance homônimo de Edwin Milton Royle, obra pioneira não apenas por ser uma das primeiras produções cinematográficas de Hollywood (ainda na era do cinema mudo), mas principalmente por ter demonstrado aos mais céticos como a literatura poderia ser transportada para as telas com grande impacto.

Esquecidos nas livrarias, famosos nos cinemas
Nos mais de 100 anos de história do cinema, inúmeros livros ganharam adaptação para as telas e se transforam em sucessos de bilheteria. Ainda mais notável é o fato de que muitas obras literárias só conquistaram projeção diante do público depois de suas adaptações. Um caso emblemático é o romance The Godfather, uma ficção escrita por Mario Puzo originalmente publicada em 1969. A trama sobre uma família de mafiosos de origem siciliana que imigra para os Estados Unidos não chamou a atenção dos leitores, que praticamente ignoraram o lançamento.
Mas a história mudou completamente em 1972, quando o livro foi redescoberto pelo cineasta Francis Ford Coppola, que o adaptou para o cinema: O Poderoso Chefão foi indicado para 11 categorias do Oscar, levando os prêmios de Melhor Roteiro Adaptado (assinado por Coppola e o próprio Puzo), Melhor Ator (Marlon Brando) e Melhor Filme. Coppola mais tarde ainda faria mais dois filmes baseados nos mesmos personagens, transformando O Poderoso Chefão num clássico.
Outro exemplo marcante é O Senhor dos Anéis (The Lord of the Rings), de J.R.R. Tolkien. Um calhamaço em papel, a trilogia literária era apenas conhecida entre os fãs de fantasia. No entanto, a adaptação cinematográfica dirigida por Peter Jackson, no início dos anos 2000, fez a obra se tornar um fenômeno global. Clube da Luta (Fight Club), escrito por Chuck Palahniuk em 1996, permanceu relegado a um canto qualquer nas livrarias. Até que em 1999 a adaptação dirigida por David Fincher, estrelada por Brad Pitt e Edward Norton, não só foi um sucesso nos cinemas como transformou o livro em símbolo da contracultura e da crítica ao consumismo.
É bem provável que, até hoje, pouca gente saiba quem é Winston Groom. Ele lançou um romance em 1986 e que permaneceu incógnito até 1994, quando Robert Zemeckis decidiu adaptá-lo para o cinema com o ator Tom Hanks no elenco. Isso mesmo, o livro é Forrest Gump. O filme foi um dos maiores sucessos daquele ano, arrecadando aproximadamente US$ 700 milhões nas bilheterias de todo o mundo. Forrest Gump recebeu 13 indicações ao Oscar e levou seis estatuetas — incluindo Melhor Ator, Melhor Diretor e Melhor Filme do ano.
O mesmo se deu com O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs), escrito por Thomas Harris em 1988. O livro só se tornou amplamente conhecido após a icônica interpretação de Anthony Hopkins como o Dr. Hannibal Lecter, no clássico e assustador filme dirigido por Jonathan Demme, em 1991. Naquele ano, O Silêncio dos Inocentes bateu um recorde extremamente raro na história da Academia, conquistando as cinco estatuetas (Top Five) mais importantes na premiação: Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Roteiro, Melhor Diretor e Melhor Filme.
Cinema e literatura, portanto, é uma relação já duradoura e das mais felizes. São representações distintas da arte, mas que combinadas oferecem uma nova e reveladora perspectiva ao público. As tramas profundas e personagens complexos nas obras literárias ganham, no cinema, vida própria e permitem que elas alcancem audiências que talvez nunca tivessem contato com o material original.
O post Livros — Uma fonte de inspiração para o cinema de Hollywood apareceu primeiro em Revista Oeste.