Pedro Cardoso diz ter escolhido ‘não ser um homem branco’

Embora seja branco, Pedro Cardoso afirma que escolheu não ser. O ator, conhecido por suas posições políticas e discursos inflamados, declara que rejeitou a identidade imposta pela sociedade e decidiu se insurgir contra sua própria condição.

“Eu me insurgi”, declara Cardoso ao jornal Folha de S.Paulo. “Me fiz diferente do que estaria condenado a ser pelo lugar na sociedade e no tempo que me coube existir neste mundo.”

Para ele, a biologia é imutável, mas a cultura pode ser transformada. Ao compreender sua posição dentro da branquitude, decidiu desafiar essa estrutura e questioná-la de forma crítica.

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O ator lançou Dias Sem Glória, um livro de crônicas publicado pela Barraco Editorial, ao lado do jornalista Aquiles Marcel Argolo e do editor Wesley Barbosa. A escolha da editora independente reflete seu posicionamento político contra a concentração de renda no mercado editorial tradicional.

No livro, Cardoso aborda temas como branquitude, justiça econômica e privilégios sociais. Ele critica o sistema editorial, onde autores ficam com apenas 10% do preço de capa, e defende que a Barraco Editorial representa um projeto de redistribuição econômica.

A recusa de Pedro Cardoso às grandes editoras 

Grandes editoras, como Companhia das Letras e Record, ficaram fora de seus planos. Segundo Cardoso, publicar por elas reforçaria a concentração de renda. No passado, lançou O Livro dos Títulos e Pedro Cardoso Eu Mesmo pela Record.

“É um ato político e econômico, não um ato de generosidade”, disse o ator. “A justiça social de que a gente tanto fala é uma questão de justiça econômica. O nome da liberdade é dinheiro.”

Capa do livro de Pedro Cardoso | Foto: Divulgação
Capa do livro de Pedro Cardoso | Foto: Divulgação

A identidade visual do livro 

A capa de Dias Sem Glória traz em sua ilustração um menino de pele escura que salta de uma plataforma para outra, e veste uma camiseta branca e shorts cinza. O fundo vermelho e a faixa horizontal da mesma cor acentuam a dramaticidade da cena. Abaixo, uma linha de espinhos pretos representa os desafios do percurso. A arte é assinada por May Solimar.

“No Brasil, o dinheiro ainda está nas mãos da branquitude europeia”, declarou Cardoso. “Por isso que a Barraco Editorial é um projeto de justiça econômica.”

A história da Barraco Editorial 

O escritor Wesley Barbosa fundou a editora em 2023 para dar espaço a autores com perspectivas antirracistas e escritores das periferias. Natural de Itapecerica da Serra, na Região Metropolitana de São Paulo, percebeu que precisava de um CNPJ para participar de feiras literárias, espaços tradicionalmente dominados pelo mercado editorial branco.

Seu primeiro livro, Viela Ensanguentada, foi publicado em 2022 pela editora Ficções. Sem acesso às livrarias, ele percorreu ruas e vendeu os exemplares pessoalmente. Com essa estratégia, comercializou 10 mil cópias. “Sou um mascate literário”, brinca Barbosa.

Em 2024, conseguiu uma publicação na França. Seu livro foi traduzido como Favela Rouge e entrou no circuito das grandes livrarias. Em 2025, recebeu seu primeiro pagamento de direitos autorais em euros.

A Barraco Editorial já lançou três títulos, O Rebento do Ódio, uma adaptação de um texto escrito para a revista Piauí. Agora, Dias Sem Glória se junta ao catálogo como a terceira obra escrita por outros autores.

“O Pedro é a nossa cota [de autores brancos]“, afirma Barbosa à Folha. “O editor é preto, o coautor é preto, a ilustradora, May Solimar, é uma mina preta genial. Mas a Barraco é um barraco mesmo: sempre cabe mais um.”

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