Há dois dias, uma pergunta percorre grupos de WhatsApp de deputados e os corredores da Câmara: qual a intenção do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), ao afirmar que o país não tem políticos exilados, logo depois da decisão de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em se licenciar do mandato para ficar nos Estados Unidos?
Eis o trecho principal do discurso: “Nos últimos 40 anos, não vivemos mais as mazelas do período em que o Brasil não era democrático, não tivemos jornais censurados, nem vozes caladas à força, não tivemos perseguições políticas, nem presos, nem exilados políticos. Não tivemos crimes de opinião ou usurpação de garantias constitucionais. Nunca mais”.
Eduardo Bolsonaro pretende pedir asilo político aos EUA
Não é preciso ser analista político para entender que a fala de Motta irritou a direita no Congresso, sobretudo o PL, partido que assegurou sua eleição robusta em fevereiro para comandar a Câmara. Do outro lado, o pronunciamento ressuscitou a minguada bancada de esquerda, que não consegue sustentar o próprio governo Lula nem tem espaço em comissões importantes.
+ Afinal, o que deu em Hugo Motta? Alguns pontos podem ser considerados:
1) Motta pode ter sentido a pressão do Supremo Tribunal Federal (STF) depois de um jantar na casa do ministro Alexandre de Moraes, com outros togados e seus cúmplices no Senado – entre eles, Davi Alcolumbre (UB-AP) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG)?
2) O presidente da Casa teria recebido recado que surgiram novas reportagens, como a de hoje, publicada pelo site Metrópoles, com denúncias de que cobrava propina para liberar emendas, agora sob escrutínio de Flávio Dino e da Polícia Federal? Ele nega as denúncias.
3) O xadrez partidário para 2026 está pesando? Motta é filiado ao Republicanos, sigla comandada por Marcos Pereira. Nesta semana, em entrevista ao Oeste Sem Filtro, ao tratar da votação de um projeto de Anistia, o ex-presidente Jair Bolsonaro disse que “só faltava o Republicanos, do Marcos Pereira”. Nesse tabuleiro, um personagem é central: o governador paulista Tarcísio de Freitas, do Republicanos. Há enorme pressão para que ele se filie ao PL, o que tiraria de Pereira não só o governo estadual mais importante do país, com reeleição quase certa, como uma eventual chapa presidencial. Mais: Pereira sabe que se Tarcísio sair, quem herdará o Palácio dos Bandeirantes será o PSD, de Gilberto Kassab, com quem Bolsonaro disse ter acertado as contas.

Por enquanto, resta aguardar como Motta vai se comportar em relação ao projeto da Anistia aos presos do 8 de janeiro, uma pauta que ganhou musculatura e já tem maioria suficiente para passar no plenário (são necessários 257 votos). Ademais, ele manteve o compromisso com o comando das comissões, sob amplo domínio do PL e da direita, e ignorou apelos do PT.
Aos 35 anos, Hugo Motta é o mais jovem presidente da Câmara. Dificilmente, arriscará sua meteórica carreira política represando o Projeto da Anistia se houver maioria segura para votá-lo e barulho nas ruas. Nas palavras de um experiente deputado do centrão, “pode ser que Motta tenha tido apenas um dia de Arthur Lira”. O último mandato de Lira ficou marcado por um ir e vir de falas e decisões, que o enfraqueceu politicamente. Resta aguardar os próximos capítulos.
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