Glenn Greenwald relembra reportagem em que assessor de Moraes fala em ‘pegar o Eduardo Bolsonaro’

O jornalista Glenn Greenwald compartilhou link de reportagem que escreveu em agosto do ano passado na qual expõe uma conversa de assessores do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), agora licenciado.

Na reportagem, escrita em parceria com Fabio Serapião e publicada na Folha de S.Paulo, consta que o juiz auxiliar de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Antônio Vargas, afirmou ao então assessor de Moraes no TSE, Eduardo Tagliaferro, que a intenção do ministro era “pegar o Eduardo Bolsonaro”. O assessor também chamou o filho de Bolsonaro de “bandido”.

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A reportagem voltou a ser mencionada depois que Eduardo Bolsonaro decidiu ficar nos Estados Unidos e se licenciar do cargo de deputado. Havia contra ele um pedido de deputados do PT de apreensão de passaporte e de investigação pelas denúncias que o parlamentar fez sobre supressão de garantias legais e constitucionais no Brasil contra a direita.

Horas depois do anúncio de que Eduardo não voltaria ao Brasil e pediria asilo nos EUA, a Procuradoria-Geral da República (PGR) deu parecer contrário à apreensão do passaporte, e Moraes arquivou o pedido do PT.

“Esta é a reportagem que fizemos na Folha mostrando que os principais assessores de Moraes teriam discutido como o ministro do STF queria “pegar Eduardo Bolsonaro”, escreveu Greenwald ao compartilhar o link e um print de parte do texto.

A reportagem de Greenwald

A reportagem de Greenwald se fundamenta em conversas de WhatsApp de novembro de 2022 obtidas no celular de Eduardo Tagliaferro, então chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED), órgão que era subordinado a Moraes no TSE.

O conjunto de mensagens transcrito pela Folha mostra que Moraes teria pedido aos assessores para associar Eduardo ao argentino Fernando Cerimedo, acusado de disseminar desinformação sobre fraudes nas eleições.

O pedido foi repassado pelo juiz auxiliar Marco Antônio Vargas a Tagliaferro. Cerimedo foi investigado por afirmar que cinco modelos de urnas em que Luiz Inácio Lula da Silva recebeu mais votos não passaram por testes de segurança.

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Em 4 de novembro, o juiz auxiliar de Moraes escreveu a Tagliaferro: “Ele quer pegar o Eduardo Bolsonaro. A ligação do gringo com o Eduardo Bolsonaro.” O assessor, por sua vez, respondeu: “Será que tem?”.

Em conversas posteriores, Tagliaferro mencionou um vídeo de Eduardo Bolsonaro com a bandeira do jornal que promoveu as teorias de Cerimedo, afirmando que isso poderia estabelecer uma ligação.

“Tem um vídeo do Eduardo Bolsonaro com a bandeira do jornal que fez a live de ontem, conseguimos aí relacionar ele àquilo”, escreveu Tagliaferro. ” Que beleza”, respondeu o juiz auxiliar de Moraes.

Eduardo Bolsonaro
Eduardo Bolsonaro anunciou que não voltará ao Brasil enquanto Alexandre de Moraes estiver no STF | Foto: Mario Agra/Câmara dos Deputados

Em 6 de novembro, Tagliaferro informou a Vargas que Cerimedo e Eduardo Bolsonaro seriam amigos há dez anos. O chefe do combate à desinformação brincou e disse que “se prender o EB, o Brasil entra em colapso”. Vargas respondeu: “Esse é bandido”.

Mais tarde, Tagliaferro enviou um relatório intitulado “TSE – Relatório – Análise Manifestações Antidemocráticas Fernando Cerimedo”, que continha prints de vídeos e fotos de Cerimedo com Eduardo Bolsonaro. “Veja se o ministro vai gostar”, acrescentou.

No relatório produzido por Tagliaferro consta: “Ainda em análise, identificamos, conforme exposto, a ligação entre Eduardo Bolsonaro e o autor das lives, Fernando Cerimedo, o quais (sic) se conhecem há muitos anos.”

Vargas responde mais tarde a Tagliaferro: “Gostou e está disparando ordens.” Numa das mensagens constam as possíveis ordens de Moraes: “VARGAS: pode bloquear os sites indicados. AIRTON: na PET sobre isso vamos determinar o bloqueio também e o bloqueio das contas. Lembre-se sempre de dar ciência a PGR”, diz a mensagem.

Marco Antônio Vargas repassou, então, ao assessor do TSE o pedido do ministro e disse: “Puxou o fio da meada. Isso que importa”.

Tagliaferro, depois do envio, afirmou que “ele [Moraes] pode responsabilizar o EB pelas manifestações”. “Já mandou preparar investigação nesse sentido no STF kkkkk”, respondeu o juiz do TSE.

Não fica claro nas conversas quais medidas foram tomadas por Moraes depois do envio do relatório.

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