(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 29 de março de 2025)
O ministro Alexandre de Moraes está contaminando o Brasil com uma doença secreta, contagiosa e perversa — a banalidade do mal. É o processo de falência generalizada dos órgãos que regulam a moral humana, e que acaba levando as pessoas a aceitarem passivamente, como um fato normal da vida, crimes cometidos coletivamente, nas alturas às quais só têm acesso as autoridades públicas.
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O cidadão comum que é pai de família, cumpridor dos seus deveres e temente a Deus jamais concordaria com atos de malignidade visceral, pois sabe distinguir o certo do errado. Mas quando esse tipo de selvageria é praticado pelos que operam as instituições, o homem de bem baixa a cabeça; se eles fazem, deve estar certo.
“Teria o Brasil, realmente, entrado nesse transtorno patológico, e seria o ministro Moraes, mesmo, o patógeno central dessa praga? Sim e sim” (J. R. Guzzo)
O cenário clássico da banalidade do mal é a Alemanha nazista, onde tantos alemães de comportamento pessoal impecável, honestos, bem-educados e incapazes de violar a lei silenciaram diante dos campos de concentração e dos fornos crematórios para judeus. Jamais, como indivíduos, cometeriam essas atrocidades. Mas coletivamente aceitaram a selvageria. Recusaram-se a fazer perguntas. Ao fim tornaram-se cúmplices dos carrascos e dos seus crimes. O inaceitável passou a ser aceito. A maldade ficou banal.
Teria o Brasil, realmente, entrado nesse transtorno patológico, e seria o ministro Moraes, mesmo, o patógeno central dessa praga? Sim e sim. A violência física e a quantidade de crimes do regime nazista, sem dúvida, foram infinitamente maiores. Mas e daí? Não há uma “dosimetria” para a infâmia; a abjeção não se torna menor porque foi praticada apenas até aqui, e não até ali — da mesma forma que a tortura não se torna mais aceitável porque ficou só no choque-elétrico. Para o regime STF-Lula, na verdade, é melhor nem mexer com comparações.

A ditadura militar de 1964, por exemplo, praticou ativamente o mal — mas nunca, em nenhum momento, achou que deveria se vangloriar de seus crimes em praça pública. No Brasil de hoje, ao contrário, Moraes se exibe como um marechal-de-campo na guerra contra a “extrema direita” e a favor da “democracia”. Orgulha-se, por exemplo, do que está fazendo com a cabelereira Debora Rodrigues dos Santos, a quem condenou a 14 anos de cadeia por pichar com seu batom uma estátua da Justiça em Brasília, na baderna do 8 de janeiro.
Não se conhece nenhum ato de crueldade equivalente a esse na História do Judiciário no Brasil. Ainda que Debora tenha sido beneficiada com a prisão domiciliar, é especialmente patético que alguém seja punido com a pena que lhe foi dada, pelo que ela fez. É a tara que se torna normal.
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