Aqui tem a magia de um Forest Gump (1994), dirigido pelo mesmo Robert Zemeckis. Conta com uma beleza própria, uma ousadia formal e muito sentimentalismo. Foi escrito por Zemeckis e Eric Roth, a mesma dupla de Forest Gump, a partir de uma história em quadrinhos de Richard McGuire. São 104 minutos de filme com a câmera parada, fixa num mesmo ângulo. A câmera só se move nos segundos finais.
Esse ângulo fixo mostra um pedaço de terra no estado de New Jersey desde a pré-história. Dinossauros passam por ela, um casal de nativos tem um filho, e até Benjamin Franklin surge em cena conforme os séculos vão passando. E então uma família constrói nesse espaço uma casa com uma ampla janela e o que passamos a ver é o que aconteceu na sala dessa casa.

Nessa sala um casal namora, tem filhos, os filhos se casam e surgem os netos e os netos vão embora depois de crescidos. O rádio é substituido por uma TV, o estilo dos móveis muda, as festas de Natal e os Dias de Ação de Graças são comemoradas. As trilhas sonoras mudam, os costumes também. Mas a sala continua firme, testemunha disso tudo.
O casal central de atores é o mesmo de Forest Gump: Tom Hanks e Robin Wright. Com ajuda de computação gráfica, eles começam com 18 anos e vão envelhecendo conforme os anos passam. Dramas familiares acontecem, alegrias, doenças. A vida como ela é. Mas a história não é contada de forma linear. O tempo pula para frente e para trás formando um mosaico lógico. Que nos faz pensar nas nossas próprias vidas, e também no lugar em que estamos assistindo ao filme. Essa sala onde está a nossa TV conectada ao streaming, o que foi há 50 anos? Há 500 anos? Há cinco milênios?
Aqui é uma experiência cinematográfica única, marcante. Mas foi mal-recebida pelos críticos e um fracasso de bilheteria. Talvez haja uma razão para isso. O filme não é somente uma obra para mostrar a passagem do tempo. É também uma celebração da família tradicional, com sólidos valores próprios passados de pais para filhos. Isso talvez incomode os que vivem no inferno da destruição woke. Mas essa onda também vai passar. E os bons valores continuarão firmes como as paredes da sala que a tudo testemunhou.
O post ‘Aqui’, a magia do cinema apareceu primeiro em Revista Oeste.