Partidos de esquerda e os poucos braços que ainda restam em movimentos sociais e sindicais promoveram uma manifestação neste final de semana em São Paulo. Era uma tentativa de se contrapor às passeatas pela Anistia aos presos políticos do 8 de janeiro – a primeira aconteceu em Copacabana (RJ), e a próxima será na avenida Paulista, no domingo, 6. O ato da esquerda foi esvaziado. Mas, antes de recorrer aos estatísticos da Universidade de São Paulo (USP) ou institutos de pesquisa, eis a pergunta que importa: faz sentido sair às ruas para pedir que centenas de pessoas – mães e avós, como a cabeleireira Débora e seu batom que comove o país – passem a vida atrás das grades?
Com o microfone em riste, estava o petista Lindbergh Farias, que aos 55 anos age como o cara-pintada do “Fora, Collor!”, quando foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). O tempo parou para ele ali, em meados dos anos 1990. Depois, viu-se às voltas com R$ 4,5 milhões de propina da Odebrecht, que até hoje não explicou onde foi parar. Também discursou Guilherme Boulos, talvez o principal representante da juventude grisalha da esquerda, aos 42 anos, que passou as últimas décadas liderando invasões de prédios. Ele perdeu no ano passado a eleição para a prefeitura paulistana. Ainda apareceram figuras históricas: Ivan Valente, deputado do Psol, um dos beneficiados pela Anistia “ampla, geral e irrestrita”, assinada por João Baptista Figueiredo, em agosto de 1979. Valente acha o batom muito mais perigoso do que as armas de verdade que sua turma empunhava durante o regime militar. Sua biografia na internet diz: “Ajudou a fundar o Comitê Brasileiro pela Anistia/SP”.
A estrela esquerdista nas redes sociais, André Janones, chamou a cabeleireira Débora, que vai rever seus dois filhos pequenos depois de dois anos — e sabe-se lá por quanto tempo –, de “desgraça”.
Quem, em sã consciência, troca um domingo de sol com amigos ou a família para bater panelas na praça em defesa do azar do próximo? E não se trata de pedir a prisão de Jair Bolsonaro, odiado por essa massa de foice e martelo à mão. Trata-se de clamar pela infelicidade de órfãos de pais vivos, presos em uma cela ou a uma tornozeleira — a grande maioria sem ter arremessado uma pedra.
O que ficou claro neste final de semana é que o PT e seus socialistas de iPhone, principalmente do Psol, que reúne a franja mais raivosa da esquerda, não juntam mais gente na rua pela pobreza de espírito. Quando a esquerda pediu a Anistia, no final da década de 1970 para tentar pacificar o país, mais gente aderiu.
O post Por que a esquerda não junta mais gente na rua? apareceu primeiro em Revista Oeste.