Soja pirateada causa prejuízo de R$ 10 bi ao ano para o Brasil

A pirataria de sementes de soja gera perdas de cerca de R$ 10 bilhões ao ano para a agroindústria brasileira. A estimativa é de que as sementes piratas ocupem 11% da área plantada da cultura no Brasil, o equivalente ao total do plantio no Estado de Mato Grosso do Sul.

Os dados se originam de um estudo publicado na última quarta-feira, 2, pela CropLife Brasil (CLB), associação sem fins lucrativos de empresas especializadas em pesquisa e desenvolvimento de soluções para a produção agrícola sustentável.

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A estimativa da associação prevê um prejuízo aproximado de R$ 2,5 bilhões para os agricultores, R$ 4 bilhões ao setor de produção de sementes, R$ 1,2 bilhão para a agroindústria de farelo e óleo de soja e R$ 1,5 bilhão nas exportações. Além disso, cerca de R$ 1 bilhão pode deixar de ser arrecadado em impostos nos próximos dez anos com a pirataria de sementes.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, a terceira maior cadeia agrícola do país, a pirataria de sementes de soja é quase três vezes maior que a média nacional. No Estado, a prática resulta em perdas anuais de R$ 1,1 bilhão.

Conforme o levantamento, cada ponto porcentual de semente certificada adquirida pelo agricultor resulta em quase 100 mil sacas comercializadas a mais, um faturamento adicional de R$ 40 milhões.

Como resultado dos esforços de combate à pirataria, no fim do ano passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a apreensão de 1,4 mil toneladas de sementes irregulares de soja em Santiago (RS), sob a suspeita de destinação ao comércio ilegal. O valor estimado das sementes é de quase R$ 20 milhões. Foi a maior apreensão de sementes piratas da história.

Impacto econômico da soja pirateada

De acordo com o levantamento, nos últimos 20 anos, a produção brasileira de soja cresceu quase duas vezes mais que a expansão de área semeada. Isso significa que o plantio teve um crescimento médio de 3,5% ao ano, enquanto a produção um aumento anual médio de 6%.

Conforme a análise, a produtividade média no Brasil foi de 59 sacas por hectare na safra 2023/2024 e a utilização de sementes piratas resultou em uma perda média de 17% de produtividade ou quatro sacas por hectare.

A pesquisa conclui que as sementes piratas podem reduzir a qualidade do cultivo e dos grãos. O resultado é uma maior incidência de pragas, plantas daninhas e doenças nas lavouras, com um potencial vetor para a propagação de espécies invasoras, nocivas para o meio ambiente e proibidas por lei.

Colheita em massa de safra de soja em uma fazenda em Campo Verde, Mato Grosso, Brasil (2008)
Colheita em massa de soja em uma fazenda em Campo Verde (MT) | Foto: Reprodução/Shutterstock

O presidente da CLB, Eduardo Leão, destacou o papel das sementes frente aos desafios do setor produtivo. “Diante do ritmo acelerado de crescimento populacional, será exigido do planeta um aumento substancial na oferta de alimentos e energias renováveis — e isso passa diretamente pela agricultura”, considera.

Leão reforçou que o combate às práticas ilegais são fundamentais para garantir a produtividade das lavouras no país. “A pirataria de sementes ameaça não apenas a produtividade no campo, mas também o avanço tecnológico da agricultura brasileira”, disse. “Ao deixar de investir em sementes certificadas, o país perde em competitividade, sustentabilidade e arrecadação.”

Anderson Galvão, CEO da empresa de consultoria em agronegócio Céleres, explicou o papel estratégico da semente certificada para a cadeia agrícola. “Hoje, 33% da soja plantada no Brasil utiliza sementes não certificadas”, estimou o empresário. “Dessas, 11% são sementes piratas, que não foram regularizadas conforme o marco regulatório.”

O levantamento destaca que o combate à pirataria de sementes pode contribuir para o aumento de investimentos em variedades de sementes e avanço tecnológico em R$ 900 milhões nos próximos dez anos, além de promover o lançamento de novos materiais mais produtivos, resistentes e que necessitam de menos defensivos químicos.

“O potencial de receita perdido pelo setor chega a R$ 10 bilhões ao ano”, explica Catharina Pires, diretora de Biotecnologia e Germoplasma da CLB. “Esse valor está dividido entre a indústria de sementes, que deixa de faturar, os produtores e a agroindústria, que perdem competitividade, e o governo, que perde arrecadação.”

“Além disso, empregos deixam de ser criados e investimentos em pesquisa e desenvolvimento são desestimulados”, reforçou a diretora. “É um ciclo que compromete o ecossistema de inovação no campo.”

Como identificar sementes pirateadas

  • Bolsa branca ou big bag reutilizado, sem informações obrigatórias nas embalagens;
  • Sacaria nova tipo bolsa branca sem identificação do produtor ou informações da semente;
  • Sacaria reutilizada de semente, ração, adubo, etc;
  • Sacaria e big bags com anotações manuais;
  • Big bags de semente ou fertilizante reutilizados;
  • Transporte de grãos em épocas de pré-plantio;
  • Nota de grão comercial que acoberta semente pirata;
  • Grãos sem impurezas transportados em big bags;
  • Semente pirata transportada a granel em caminhão;
  • Grãos comerciais padronizados; e
  • Preço muito abaixo do mercado.

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