Direita tomou conta das ruas, admitem esquerdistas

Desorganização interna, discurso contraditório, atraso comportamental e perda de identidade. Na visão de alguns políticos e estudiosos, estes são alguns motivos que estão tornando o PT um partido ‘sem pegada’ quando o assunto é mobilizar a sociedade. Do outro lado, a direita avança.

Na reportagem “Por que a esquerda não leva mais ninguém para as ruas”, o jornal Gazeta do Povo traça um panorama abrangente sobre a questão e mostra que o próprio partido já reconhece a falta de vitalidade e persuasão. “Para colocarmos 10 mil pessoas nas ruas, muitas vezes a gente sua sangue”, admite Edinho Silva.

Direita tem base social, afirma provável presidente do PT

Candidato preferido do presidente Lula da Silva para assumir o comando do Partido dos Trabalhadores, em substituição a Gleisi Hoffmann, que foi para o Ministério das Relações Institucionais, Edinho reconhece que a direita ganhou espaço e atualmente exibe uma “base social”.

A opinião do dirigente encontra ressonância nas palavras de um dos principais caciques do partido, José Dirceu. Ex-presidiário em razão de envolvimento em vários escândalos no passado, quando foi ministro do governo Lula, Dirceu tem corrido os eventos petistas para promover “chacoalhões” na turma adormecida.

“É preciso despertar que a eleição está aí. Ela será em outubro do ano que vem, mas começa agora. Se nós não nos levantarmos, eles nos vencerão, como já aconteceu no passado”, disse o ex-chefe da Casa Civil, em recente discurso a partidários no início de abril, conforme relata o jornal.

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Da ala mais radical do PT, Rui Falcão reconhece que o partido está parado. Ele manifesta sua preocupação dizendo que a esquerda deve se mexer para “não deixar a direita com o monopólio das ruas”. O encolhimento da esquerda é, conforme a ex-deputada federal do PCdoB Manuela d’Ávila, um “dado da realidade” que mostra o isolamento da esquerda.

Pessoas comuns no lugar de sindicatos

O cientista político Mário Sérgio Lepre, professor na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), vincula o cenário à formação de um novo fenômeno a partir das manifestações, em São Paulo, contra os aumentos nas tarifas de transporte público. “A grande maioria dos manifestantes era formada por pessoas comuns, não vinculadas a sindicatos ou partidos. Quando essa sociedade desorganizada começou a sair de casa, a esquerda perdeu a rua”. 

Segundo ele, o mesmo se repetiu no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O professor adiciona à sua análise o comentário de que “o governo do PT prega uma coisa, mas não entrega aquilo. O fato não é compatível com a narrativa”. 

Professor na escola Insper, Gustavo Macedo acredita que o PT não está à frente de um “governo de esquerda”, mas, sim, de centro, devido à composição partidária dos ministérios e ao fato de o vice-presidente, Geraldo Alckmin, ser um adversário político histórico do partido. 

O estudioso concorda haver uma desmobilização da esquerda brasileira. “Em grande medida, porque existe uma grande dificuldade da produção de novas lideranças, que é uma característica do populismo que marca a política do país nos últimos 15 anos, pelo menos”.

O poder do “ativismo silencioso”

Professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, o cientista político José Alves Trigo observa que todos os protestos emblemáticos do passado tiveram na liderança jovens entre 18 e 25 anos. Isso, porém, deixou de existir. “É um novo tempo, um novo jovem, uma nova geração. Parece-me que não há mais essa preocupação”. 

Para Trigo, o “ativismo silencioso” é a regra no século XXI. “Não se trata de um fenômeno de direita ou esquerda, mas de uma mudança da sociedade”, diz, destacando que a prática da “manifestação silenciosa” também acontece em outras dimensões da sociedade. Isso talvez explique a preocupação da esquerda em censurar as redes sociais.

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