As denúncias de antissemitismo no Brasil aumentaram 350%, entre 2022 e 2024, segundo dados divulgados nesta terça-feira, 15, no relatório de Antissemitismo no Brasil. O levantamento foi feito pela Confederação Israelita do Brasil (Conib) em parceria com a Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp).
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A causa da elevação da intolerância foi o início da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, ainda em andamento. No primeiro mês do conflito, outubro de 2023, o número de ocorrências reportadas foi mais de 10 vezes maior do que o registrado no mesmo período do ano anterior, o que equivale a aumento superior a 1000%.
O total em 2024 foi de 1.788 denúncias, média de 4,9 por dia. Em 2023, foram 1.410 denúncias (média de 3,9 por dia), o que indica uma alta de 27%. O relatório destaca que o ambiente digital virou o grande meio de propagação de antissemitismo no Brasil e no mundo. Em 2024, as ocorrências no meio digital saltaram de 51% em 2022 para 73% do total.
“É preocupante sob todos os aspectos o crescimento do antissemitismo em nosso país, principalmente os casos explícitos”, afirma a Oeste o presidente-executivo da Fisesp, Ricardo Berkiensztat. “Nós não vamos baixar a guarda e estamos atentos a todos os casos, sempre em consonância com as forças públicas.”
O X e o Instagram são as plataformas mais citadas como fontes das denúncias. As organizações judaicas brasileiras consideram esses atos como formas de crime de racismo.
A comparação entre os dados online e offline mostra que as denúncias no meio digital cresceram 549% entre 2022 e 2024. No meio físico a alta foi de 145%.
Entre os registros offline, os casos mais comuns são relacionados a vandalismo, como pichações com simbologia nazista. Em seguida, aparecem os relatos de agressões verbais e físicas.
A Conib relatou que o departamento jurídico da entidade recebeu 104 denúncias em 2024. Pelo menos 50 estas foram encaminhadas à polícia ou ao Ministério Público.
Algumas decisões têm sido bem-sucedidas, como a condenação de 18 anos do líder religioso Tupirani da Hora Lores, por discurso de ódio e incentivo ao genocídio. A ação foi movida pela Conib, em conjunto com a Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (Fierj).
“Nós temos tido uma resposta muito positiva, tanto do executivo, quanto do legislativo e do judiciário”, afirma Daniel Kignel, diretor jurídico da Fisesp. “As forças públicas – a Polícia Civil e a Polícia Federal – têm recebido nossas denúncias e dado o andamento que nós esperamos, reconhecido a urgência e a necessidade de atender esse tipo de crime, reconhecendo que o antissemitismo se enquadra na definição de racismo.”
Antissemitismo de jovens no Exterior
Boa parte destas denúncias é decorrente da atuação de grupos do Exterior no processo de radicalização, especialmente entre jovens.
“O Brasil tem sido um palco importante de radicalização, tanto radicais da extrema direita, ultranacionalistas brancos, e também de grupos como o Estado Islâmico (ISIS)”, ressalta Alexandre Judkiewiz, diretor executivo de segurança da Fisesp e do Departamento de Segurança Comunitária (DSC).
Como comparação, em setembro de 2024, um relatório da Liga Antidifamação (ADL) informou que mais de 10 mil incidentes antissemitas foram registrados nos Estados Unidos (EUA) entre 7 de outubro de 2023 e 24 de setembro de 2024.
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O número foi o maior já registrado em um período de 12 meses desde o início do monitoramento, em 1979. Representou, nos EUA,um aumento de mais de 200% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando foram relatados 3.325 casos.
“O Brasil ainda é um oasis na questão do antissemitismo, mas o crescimento das denúncias é alarmante”, completa Berkiensztat.
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