Atual presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (Creden) na Câmara, o deputado Filipe Barros (PL-PR) é um dos nomes mais atuantes da oposição ao governo Lula. O parlamentar é um crítico aberto do alinhamento da gestão petista com ditaduras e da postura diplomática do Brasil diante dos Estados Unidos.
Em entrevista exclusiva a Oeste, Filipe Barros denuncia o governo Lula por atuar como um “complexo industrial da censura” — conjunto de ações que, segundo ele, ameaçam a liberdade de expressão no país. O deputado também analisa a suposta interferência da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) nas eleições presidenciais de 2022.
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Pré-candidato ao Senado com apoio declarado do ex-presidente Jair Bolsonaro, Filipe Barros afirma que tem trabalhado para articular uma bancada combativa, especialmente no enfrentamento das pautas da esquerda que “ignoram as liberdades e a soberania nacional”.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista com Filipe Barros

Recentemente, tivemos o escândalo da possível interferência da Usaid nas eleições presidenciais de 2022. Como o senhor vai atuar, no âmbito da Creden, para investigar esse caso?
Uma das principais vozes sobre a interferência da Usaid no Brasil é Mike Benz, ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA. Na minha primeira sessão como presidente da Creden, aprovamos o convite para que ele compareça à comissão — presencial ou virtualmente — e apresente os documentos e fatos que possui sobre o tema. A definição da data está em fase final e deve ser anunciada ainda nesta semana. Sobre a criação de uma CPI específica, embora eu tenha assinado a proposta, sou cauteloso. Participei de todas as CPIs recentes, como a do 8 de janeiro, e vi como o governo, mesmo resistindo à instalação, depois ocupou a maioria das cadeiras e esvaziou a investigação. Neste caso, com o governo Lula tendo se beneficiado politicamente do chamado “complexo industrial da censura”, não tenho dúvidas de que atuariam para barrar as apurações. O depoimento de Mike Benz à Creden, por si só, já deve trazer revelações importantes.
Como analisa a postura diplomática do Brasil, considerando os recorrentes ataques de Lula a Trump?
No passado vocês vão se lembrar que o Brasil foi chamado de anão diplomático. Hoje eu ouso dizer que o Brasil é um “nada diplomático” por conta das alianças ideológicas que o governo Lula tem feito com as ditaduras do mundo. Veja, o Lula mandou uma embaixadora para a posse do ditador Nicolás Maduro na Venezuela, assim como para a posse do Trump. Então veja a falta de senso de proporção de Lula. Ele deveria pessoalmente ter ido à posse do Trump, mas não o fez. Existe um alinhamento ideológico do Brasil com a Venezuela, a Nicarágua e com outros países que podem ser qualquer coisa, menos democracias. Ao passo que no Brasil, o PT se intitula de “defensor da democracia”, no aspecto internacional, ele se alinha às piores ditaduras do mundo. Então isso faz com que o mundo inteiro veja o Brasil como um “nada diplomático”. São só discursos — discursos e nada de prática.

Como o senhor analisa a postura do governo Lula diante do “tarifaço” de Trump, e da culpabilização dos EUA pelo atual cenário econômico do Brasil?
O Lula está querendo arranjar um culpado para o seu próprio desastre econômico. Ele fica vociferando contra uma decisão soberana do governo norte-americano. E veja o contrassenso: a esquerda sempre acusou os Estados Unidos de imperialista, de tentar interferir nos outros países. Quando o Partido Democrata resolve interferir no Brasil, favoravelmente ao Lula, eles ficam quietos e apoiam, como no caso da Usaid. Agora que os Estados Unidos se recolhem e dizem “vou cuidar do meu próprio país”, a esquerda mais uma vez reclama. Então o Lula vai vociferando, tentando arranjar um culpado para o desastre econômico que o próprio governo dele tem causado. Ele falou em acionar a OMC. Primeiro, que uma decisão da OMC demoraria anos. Segundo, que isso só agrava o problema. Quando o Bolsonaro estava na presidência e o Trump no seu primeiro mandato, ele também falou que ia taxar o aço brasileiro. O presidente Bolsonaro pegou o avião, foi até lá, conversou e resolveu. Trump é um negociador. Era para o Lula estar fazendo exatamente isso: buscar diálogo, entender o que podemos oferecer aos Estados Unidos e o que eles podem oferecer ao Brasil. O Lula, ao não fazer isso, não está pensando no povo brasileiro — está pensando exclusivamente na sua própria política e numa possível reeleição.
Há espaço para o Brasil reagir estrategicamente à política de tarifas do governo Trump?
Existe uma oportunidade no Brasil. O Brasil pode ser um parque industrial para algumas indústrias que queiram atender o mercado consumidor do Brasil, da América Latina e dos próprios Estados Unidos. Acontece que certamente não tem absolutamente ninguém do governo Lula pensando nas possibilidades que surgirão ao Brasil em decorrência da política tarifária norte-americana. Eles não pensam no país — querem só arranjar um culpado para o seu próprio desastre econômico.

Além da Creden, o senhor também assumiu a presidência da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI). Qual a importância da oposição assumir esse colegiado?
A Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência que eu presido também tem uma importância enorme porque, pela lei, quem faz o controle externo de toda atividade de inteligência produzida no Brasil é essa comissão, chamada de CCAI. Então não é só a ABIN, mas a Polícia Federal e todos os órgãos que produzem inteligência de Estado estão submetidos ao controle da CCAI. Nós temos por ora uma confusão diplomática causada por uma possível espionagem — o episódio envolvendo Brasil e Paraguai. Dedicamos a primeira sessão deliberativa da comissão na semana passada sobre esse assunto. Aprovamos uma série de requerimentos solicitando maiores informações por parte da ABIN e da Polícia Federal. Todas as reuniões da CCAI são secretas, justamente por se tratar de informações de extrema sensibilidade, classificadas como sigilosas. O que eu tenho dito é que a atividade de inteligência é fundamental para um Estado que quer ser soberano. Os governos passam, o Estado fica. E é fundamental para um Estado soberano ter uma atividade de inteligência que possa ajudar na defesa da soberania nacional. Eu dou um exemplo: bati muito na questão da compra, por parte de uma mineradora chinesa, de uma mineradora peruana que estava explorando urânio em território brasileiro. Fiz uma série de requerimentos de informação. E nenhuma das autoridades brasileiras tinha ciência da venda dessa mineradora peruana que explorava urânio brasileiro. Veja, o urânio é um minério completamente estratégico, e as autoridades brasileiras não tinham nenhum informe de inteligência sobre esse fato gravíssimo. Falta potencializarmos as atividades de inteligência no nosso país.

Bolsonaro lançou seu nome ao Senado. Como você recebeu essa indicação?
O presidente Bolsonaro veio a Londrina na semana passada, na abertura da nossa exposição rural, e anunciou o meu nome como pré-candidato ao Senado. Isso é fruto, em primeiro lugar, do trabalho que eu tenho feito desde o início do meu mandato como deputado — e até antes disso, como vereador em Londrina — mas especialmente como deputado federal. Estive à frente das principais batalhas ao longo desses últimos anos. Fui líder do partido em 2019, coordenando a reforma da Previdência. Fiz parte da CPMI das Fake News, lutando pela liberdade de expressão. Fui relator do voto impresso, uma pauta tão necessária para a democracia brasileira e acompanhada de perto pelo povo. Fiz parte da CPMI do 8 de janeiro e venho batalhando pela soltura dos presos políticos, dos reféns do dia 8 de janeiro, que não merecem estar presos porque não cometeram crime. Bolsonaro viu isso aqui em Londrina: por onde eu passo, as pessoas pedem para que eu seja candidato ao Senado, para intensificar ainda mais essas nossas lutas — que são as lutas do povo brasileiro no Senado Federal. O segundo motivo é pela relação de amizade que construí com o próprio presidente Bolsonaro e com sua família desde que fui eleito vereador. Então, com muita responsabilidade, sabendo do momento delicado que o Brasil vive e do papel que o Senado deve exercer a partir de 2027, o presidente Bolsonaro escolheu o meu nome como seu pré-candidato pelo Paraná.
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