A proposta de anistia aos envolvidos no 8 de janeiro de 2023 avança na Câmara. No Senado, o cenário é diferente. O governo Luiz Inácio Lula da Silva se move em silêncio para frear o projeto na Casa Alta. Se a Câmara aprovar o texto, caberá a Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) a tarefa de barrar o avanço no Senado.
Mas nenhuma promessa em Brasília vem sem custo.
Alcolumbre, que voltou ao comando do Senado neste ano com fama de articulador fiel aos seus acordos, agora cobra espaço no governo para entregar o que Lula espera dele. Segundo informou o jornal Estado de S. Paulo, o senador pressiona o Planalto por mudanças estratégicas — e coloca como prioridade a saída do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que se tornou um entrave às suas ambições.
Disputa de território e influência
Silveira, ex-senador mineiro e atualmente um nome próximo do núcleo pessoal de Lula, resiste à ofensiva do amapaense, sobretudo nas indicações para agências reguladoras do setor energético. Alcolumbre quer emplacar nomes de confiança na Agência Nacional de Energia Elétrica, na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis e na Agência Nacional de Mineração. O ministro, por sua vez, tem vetado essas movimentações. Isso provocou um conflito direto com o presidente do Senado.
O impasse ganha contornos ainda mais graves porque Alcolumbre teria feito promessas a aliados durante sua campanha para presidir o Senado, incluindo vagas nessas mesmas agências. Agora, com Silveira no caminho, o senador se vê pressionado a entregar o que prometeu — ou a buscar apoio em outras frentes.
Correios, barganhas e CPI silenciada
Não é só no setor de energia que Alcolumbre tenta avançar. Fontes próximas ao parlamentar relatam que o presidente do Senado também teria atuado para enterrar a instalação de uma CPI dos Correios. O motivo? A nomeação de um de seus apadrinhados, Hilton Rogério Maia da Costa, para a Diretoria de Negócios da estatal.
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Hilton já chefiou a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) no Amapá, reduto político do senador, e sua ascensão no governo coincidiu com a súbita retirada de pressão por uma investigação. Vale lembrar que os Correios são hoje a estatal com o maior déficit entre as empresas federais, com R$ 3,2 bilhões negativos — um quadro que levanta suspeitas sobre a gestão da companhia, sob comando de Fabiano Silva dos Santos, indicado pelo Grupo Prerrogativas.
Para a oposição, a manobra de Alcolumbre tem implicações preocupantes. O senador Márcio Bittar (União-AC), um dos que defendem a CPI dos Correios, disse que a amizade com o presidente do Senado não interferirá na necessidade de investigação. Mas, na prática, a indicação de Hilton teve o efeito de conter os ânimos no Congresso.
“Os Correios, a mais antiga estatal do país, está se acabando”, afirmou Bittar. “O Senado precisa averiguar por que razão essa insolvência está acontecendo.”
Lula entre o pragmatismo e a dependência
O Palácio do Planalto tem operado com base na lógica do “mal menor”. Lula sabe que contar com o apoio de Alcolumbre é mais seguro do que apostar na fidelidade instável da bancada do União Brasil. Por isso, a relação entre ambos tem se fortalecido, mesmo diante de divergências pontuais.
A influência de Alcolumbre já se estende a outros ministérios. Waldez Góes (Integração Nacional) e o agora ex-ministro Juscelino Filho (Comunicações) foram indicados com seu aval. Depois da queda de Juscelino, denunciado pela Procuradoria-Geral da República, o senador rapidamente patrocinou a indicação do deputado Pedro Lucas (MA), antecipando-se a uma disputa interna que poderia comprometer sua base de influência.
Anistia: promessa ou moeda de troca?
A proposta de anistia aos condenados e investigados pelos atos do 8 de janeiro segue dividindo opiniões. Na Câmara, o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), já conseguiu reunir as assinaturas necessárias para a urgência da votação. Já o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), hesita em pautar o texto.
No Senado, a situação é mais nebulosa. O governo conta com a promessa de que Alcolumbre barraria a proposta. Mas senadores da oposição veem com ceticismo esse compromisso.
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