Desde 2010, a contadora aposentada Sonia Possa, 67, luta contra um câncer maligno na pele.
Mesmo depois de duas cirurgias realizadas no ano seguinte à descoberta que a abalou emocionalmente, a mulher foi comunicada que a doença não teria cura e, por isso, o remédio mais adequado seria tratar a enfermidade com medicamentos, pelo resto da vida. Sonia também enfrenta outras comorbidades: otite crônica (inflamação prolongada do ouvido), otorreia (saída de secreção líquida do ouvido) e otomastoidite (infecção que afeta a mastoide, uma parte óssea atrás da orelha). Devido aos problemas, Sonia perdeu 90% da audição no ouvido esquerdo.
Em 8 de janeiro de 2023, Sonia foi presa no interior do Congresso Nacional, para onde se refugiu das bombas disparadas pela polícia. A paranaense de Curitiba viajara a Brasília alguns dias antes para se manifestar, pacificamente, contra o governo Lula.
Após duas semanas na Colmeia, no Distrito Federal, Sonia voltou para casa, com tornozeleira eletrônica, além de ter de cumprir uma série de medidas restritivas. Em virtude de sua volta, retomou os procedimentos médicos recomendados. O alívio durou até 4 de abril de 2024. Isso porque, na data, a maioria do Supremo Tribunal Federal (STF) seguiu o voto do ministro Alexandre de Moraes e condenou a mulher a 14 anos de cadeia. Pouco mais de um mês depois, a Polícia Federal prendeu Sonia (apesar de recursos pendentes), por “risco de fuga”. Os cuidados com a doença precisaram ser interrompidos novamente.
Pedido de prisão domiciliar para a idosa com câncer condenada pelo 8 de janeiro

Há quase um ano, Sonia encontra-se na Penitenciária Feminina do Paraná, na capital do Estado. Tão logo a polícia a prendeu, a defesa tratou de anexar aos autos os laudos médicos que comprovam a saúde delicada da idosa. Mesmo assim, ela permaneceu detida no local.
Atualmente, Sonia divide cela com uma pessoa trans. A coluna apurou que, de acordo com a cadeia, a idosa é a companhia adequada, por, em razão da idade, “ser mais tolerante”.
Conforme a defesa, a unidade prisional “não pode oferecer na íntegra o tratamento necessário a requerente, tais como medicamentos, sessões de quimioterapia e demais necessidades”. Por isso, a advogada de Sonia entrou com um pedido de prisão domiciliar no STF, no sábado 26.
“A necessidade é presumida em razão da avançada idade da Requerente (67 anos e 6 meses) e dos seus diversos e graves problemas de saúde, os quais vem aumentando com o passar do tempo”, observou a defesa, na petição obtida em primeira mão por Oeste. “Por sua vez, a inadequabilidade, ao que consta, encontra-se demonstrada, pois é cediço que o ambiente carcerário não é adequado para bem atender às necessidades de uma pessoa de quase 68 anos, que já presume-se possuir saúde fragilizada em razão da própria idade, bem como, já acometida por câncer maligno de pele, sem tratamento já há 11 meses.”
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