O Banco Central do Brasil (BC) foi avisado em setembro de 2023 sobre os riscos de falência do Banco Master. A instituição financeira enfrentava problemas por causa das operações arriscadas comandadas do dono, Daniel Vorcaro.

Em 5 de setembro de 2023, um relatório de 31 páginas enviado pelo fundo de investimento ESH, do gestor Vladimir Timerman, ao chefe do Departamento de Supervisão Bancária do BC, Belline Santana, informava que o Banco Master teve uma escalada incomum na captação de recursos via Depósitos a Prazo (CDBs), com aumento médio de 100% a cada exercício financeiro, e que os recursos captados com tais emissões de CDB estão sendo aplicados de forma maciça em cotas de Fundos de Investimentos Creditórios (FIDCs) e Fundos de Investimentos e Participações (FIPs) que não teriam a solidez prevista pela regulamentação bancária em vigor.
No documento, o fundo ESH reportou demonstrações financeiras do Banco Master, apontando inconsistências e riscos para a solvência do banco.
“A avaliação e contabilização de tais ativos pelo Banco Master, também à primeira vista, podem não estar observando nem as boas práticas de mercado nem a regulamentação em vigor, de modo que as demonstrações financeiras da citada instituição podem não estar refletindo sua real situação financeira e patrimonial”, informava o documento.
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Em seu comunicado ao Banco Central, o ESH salientou que “a aplicação dos recursos do Banco Master nesse tipo de ativos, ainda mais no contexto da escalada de captações em CDBs, pode, em tese, estar levando a citada instituição financeira a uma exposição anormal a riscos de liquidez e/ou solvência, com potencial de efeitos deletérios sobre a poupança popular captada e, por conseguinte, sobre o sistema financeiro nacional”.
Banco Central respondeu que não iria atuar no caso do Banco Master
A resposta do Banco Central chegou apenas um ano depois, negando qualquer atuação contra o Banco Master.
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“Constatou-se que os temas abordados na referida comunicação são abrangidos pelo contínuo trabalho junto a diversas entidades supervisionadas, inclusive o Banco Master”, escreveu o Banco Central. “Conclui-se pela desnecessidade de procedimento de supervisão específico e o processo eletrônico que acolheu a referida comunicação foi encerrado.”
Procurado por Oeste, o Banco Central não respondeu aos pedidos de informação. O espaço continua aberto para eventuais manifestações da autarquia.
Entenda o caso do Banco Master
A crise do Banco Master poderia se tornar mais um escândalo no mercado financeiro brasileiro.
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Famoso por oferecer Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com rendimentos de até 140% do CDI, muito acima da média do mercado, o Banco Master chegou a acumular mais de R$ 50 bilhões em passivos.
Desse montante, cerca de R$ 12 bilhões vencerão em 2025.
Todavia, a carteira de ativos do Master é composta majoritariamente de precatórios (dívidas judiciais de pagamento incerto), além de ter realizado investimentos em empresas em dificuldades financeiras ou até mesmo em recuperação judicial, como Oi, Ambipar, Light e Gafisa. Muitas das quais ligadas ao empresário Nelson Tanure.
O risco de insolvência do Master poderia provocar a intervenção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que pagaria os depósitos até R$ 250 mil no lugar do banco. Entretanto, o capital do FGC hoje é de cerca de R$ 132 bilhões, e uma eventual falência do Master provocaria um sério estresse no mercado financeiro.
O Banco Master enfrenta uma crise de credibilidade que poderia se transformar em uma crise de liquidez. Mas, no fim de março, recebeu uma oferta de compra por parte do banco BRB, instituição financeira pública do Distrito Federal, por R$ 2 bilhões.
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