Papa Leão XIII, Princesa Isabel e desenvolvimento da agricultura

Predecessor do novo Papa, Leão XIII, na Encíclica In plurimis (5/5/1888), escrita para promover ações contra a escravidão, manifestou o seu contentamento pelo empenho do Imperador Dom Pedro II e da Princesa Isabel, para sua extinção. No mesmo ano, Leão XIII concedeu a Rosa de Ouro à Princesa Isabel, por ter assinado em 13 de maio, a Lei Áurea: a abolição da escravidão no Brasil. Símbolo permanente de reverência, essa Rosa de Ouro encontra-se hoje no Museu de Arte Sacra, do Rio de Janeiro.

A Princesa Isabel foi uma das figuras femininas mais relevantes na história do país. Com D. Pedro II, ela é responsável, na origem, pela atual grandeza da agropecuária nacional, tema já tratado na Revista Oeste.

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O primeiro ato público de fé abolicionista da Princesa Isabel se deu por ocasião de seu matrimônio, em 1864. Ela pediu ao pai, como presente de casamento, a alforria de todos os escravos do Estado. Com o incentivo de Dom Pedro II, por meio de suas regências, ela foi levada a comandar o processo de aprovação da legislação pré-abolição, após a Lei Eusébio de Queirós, sobre a proibição da entrada de africanos escravizados no Brasil.

As virtudes da Princesa Isabel

Ela frequentou quilombos, sobretudo, o Quilombo do Leblon, onde se cultivavam camélias. Essas flores viraram um símbolo do abolicionismo e a Princesa Imperial fazia questão de portá-las sempre consigo, enfeitavam sua mesa de trabalho e sua capela particular. Em 1886, impediu a destruição do Quilombo do Leblon. Quando assinou a Lei Áurea foram-lhe entregues dois buquês de camélias, um, artificial, pela diretoria da Confederação Abolicionista, em nome do movimento vitorioso, e outro, de flores naturais, vindas do Quilombo do Leblon, por gente do povo. Rui Barbosa definiu o gesto como a mais mimosa das oferendas populares.

A princesa Isabel organizou uma série de eventos para arrecadar fundos para alforrias e para o financiamento do movimento abolicionista. Pagou do bolso a liberdade de cativos e libertou os últimos escravos de Petrópolis. O Palácio ou Paço de São Cristóvão se transformou em uma espécie de quilombo abolicionista. André Rebouças, engenheiro e intelectual negro de prestígio na época, comandava o esquema de fugas, com o apoio da herdeira do Trono. A regência pratica às escâncaras, em solenidades públicas, o acoitamento de escravos, acusavam.

A primeira senadora do país

Primeira mulher a administrar o Brasil, assumiu o trono várias vezes como Regente durante viagens ao exterior do Imperador. Primeira mulher senadora do país, entrou na história, ao sancionar como Princesa Imperial Regente, a Lei do Ventre Livre, sobre a qual, a maior parte dos votos contrários veio de cafeicultores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Assim a Princesa Imperial, grávida, em sua primeira fala à Assembleia Geral, defendeu a abolição da escravatura: Esta última reforma marcará uma nova era no progresso moral e material do Brasil. É empresa que exige prudência, perseverantes esforços e o concurso espontâneo de todos os brasileiros. Tenho fé em que seremos bem sucedidos, sem prejuízo da agricultura, nossa principal indústria, porque esse cometimento é a expressão da vontade nacional, inspirada pelos mais elevados preceitos da religião e da política. O governo fará quanto lhe cumpre para a mais pronta e perfeita execução de tão importantes reformas, dedicando-lhes a mais solícita atenção.

Após a Lei Áurea, abolicionistas procuraram a Princesa com proposta de eternizá-la, no alto do Corcovado, numa estátua da “Redentora”, como fora apelidada pelo jornalista negro José do Patrocínio. Ela recusou. Ordenou construir uma imagem de Cristo, o verdadeiro redentor dos homens. Essa é a origem do santuário do Cristo Redentor, por obra de Isabel, a Redentora:

Manda Sua Alteza a Princesa Imperial Regente em Nome de Sua Magestade o Imperador agradecer a oferta da Commição Organizadora (…)para erguer huma estátua em sua honra pela extinção da escravidão no Brasil, e faz mudar a dita homenagem e o projecto, pelo officio de 22 de julho do corrente anno, por huma estátua do Sagrado Coração de Nosso Senhor Jezus Christo, verdadeiro redentor dos homens, que se fará erguer no alto do morro do Corcovado.

O abolicionismo

Em repetidas manifestações, a Princesa indicou a vinda de trabalhadores da Europa para fortalecer o abolicionismo (fornecimento de mão de obra livre) e como a cessão de terras a agricultores em colônias agrícolas, levaria a uma nova agricultura, ao lado das grandes propriedades de cana, café e pecuária.

Graça aos acordos do imperador D. Pedro II com monarquias europeias e do Japão, por décadas, trabalhadores livres vieram substituir a mão de obra escrava, em novas bases organizacionais, com perspectivas de melhoria de suas vidas e enriquecimento. E assim foi.

Os agricultores e artesãos imigrantes integraram-se a novas formas de acesso à terra em projetos de colonização no Sul e Sudeste, regidos pela Lei de Terras de 1850, assinadas por D. Pedro II. Até a anarquistas, D. Pedro II entregou terras para instalação de uma comuna experimental, baseada suas premissas de amor livre e igualitarismo, no Paraná (Colônia Cecília).

O Rio Grande do Sul recebeu imigrantes italianos, eslavos e alemães. Em Santa Catarina, alemães colonizaram a região norte e o vale do Itajaí; e italianos, o planalto e a porção oeste. No Paraná, houve fluxos migratórios de italianos, ucranianos, alemães e japoneses.

Agricultores europeus e japoneses criaram uma nova e moderna agricultura no Sul e Sudeste, completamente diferente das grandes fazendas tradicionais de pecuária, café e cana. Em muitos casos, após a crise de 1929, compraram e assumiram a gestão dessas fazendas. E deram origem a grandes polos de produção de café e açúcar. Seus descendentes, sempre dedicados à agricultura, conquistaram o Centro Oeste, os cerrados, o Matopiba e hoje ainda expandem o agronegócio tecnificado e a agroindústria pelo país.

A libertação

O fim da escravatura no Brasil ocorreu 25 anos depois do EUA, sem guerra civil. E um século antes de ser abolida por leis na África, como na Mauritânia em 1981. O Barão de Cotegipe advertiu: A senhora acabou de redimir uma raça e perder o trono. Vaticinando já o golpe militar da “proclamação da ré-pública”. A princesa Isabel rebateu: Se mil tronos eu tivesse, mil tronos eu perderia para pôr fim à escravidão no Brasil.

Descendentes de italianos, alemães, poloneses, ucranianos, russos, espanhóis, pomeranos, silésios, portugueses, japoneses e de outras nacionalidades, devem e precisam conhecer e divulgar essa história. E reconhecer o papel da princesa Isabel em sua ascendência e existência no mundo rural, urbano e no Brasil.

Gente odiosa e totalitária defende arrancar essas páginas da história do Brasil, apagar a vida da Princesa, ocultar seus feitos em wokepédias e passar em branco o 13 de maio. Como se fosse possível retirar da história uma Lei chamada de Áurea. Vale comemorar o 13 de maio, sobretudo no mundo rural. Quem conhece a agropecuária brasileira sabe o quanto o seu sucesso tem, na origem, a Monarquia e a Princesa Isabel de Orléans e Bragança.

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