Ata do Copom considera impacto do novo consignado e não indica próximos passos

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central destacou, em ata publicada nesta terça-feira, 13, os potenciais efeitos do novo programa de consignado privado sobre a economia brasileira. Embora a medida possa gerar algum impulso à atividade por meio do aumento da renda disponível das famílias, o comitê avalia que há incerteza sobre seu impacto total. 

“Ainda há muita incerteza sobre qual será o efeito total do programa, que ainda se encontra em período inicial, então o comitê acompanhará os dados atentamente para refinar os impactos estimados sobre o mercado de crédito e sobre a atividade”, diz o documento, referente à reunião da última quarta-feira, 7. 

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A ata ressalta que a iniciativa não deve ser tratada como um estímulo cíclico, mas sim como uma possível mudança estrutural no mercado de crédito. Por estar ainda em fase inicial, os efeitos do programa serão acompanhados com atenção pela autarquia para que sejam adequadamente incorporados na condução da política monetária.

Presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo | Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo | Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

O comitê diz ter incorporado em seu cenário de referência “algum impacto” das alterações do consignado privado sobre o crescimento, em especial pelo aumento da renda disponível para a população a partir da troca de dívidas — mais caras por mais baratas. Segundo o Copom, o efeito desse fatos sobre a projeção é mais comedido.

O colegiado do BC disse também que o novo consignado representa “possivelmente” uma alteração estrutural no mercado. “Tais medidas serão devidamente incorporadas para a determinação apropriada da restrição monetária necessária para a convergência da inflação à meta”, diz a ata.

Além disso, o Copom afirma que uma política fiscal que contribua para a redução do prêmio de risco — isto é, a rentabilidade adicional cobrada por quem investe no Brasil — e atue de forma contracíclica colabora para o trabalho do BC de levar a inflação à meta. Uma atuação contracíclica ajuda a estabilizar a economia no atual período de expansão.


O Copom elevou a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual na última reunião, para 14,75% ao ano, diante da inflação acima da meta, expectativas desancoradas e da resiliência da atividade econômica e do mercado de trabalho.

Ao todo, o colegiado do BC subiu a taxa de juros por seis reuniões consecutivas. A Selic acumula elevação de 4,25 pontos porcentuais desde o início do ciclo de alta, em setembro de 2024, quando estava em 10,5% ao ano. A taxa está agora no mesmo nível registrado entre julho e agosto de 2006.

O alvo perseguido pelo BC para a inflação é 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta é considerada atingida se estiver entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

dívida pública; superávit; selic
Prédio do Banco Central do Brasil | Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Copom alerta sobre expectativas desancoradas e cenário inflacionário

A ata confirma que o Copom está preocupado com o descolamento das expectativas de inflação em todos os horizontes relevantes. As previsões do mercado para 2025 e 2026, apuradas pela pesquisa Focus, estão em 5,5% e 4,5%, respectivamente, acima da meta oficial de 3%. 

As projeções do próprio Banco Central, no cenário de referência, apontam inflação de 4,8% em 2025 e 3,6% em 2026.

A inflação de serviços segue alta, um reflexo das pressões de demanda em um mercado de trabalho ainda aquecido. Já os preços de bens industrializados e alimentos também apresentaram avanço, em parte impulsionados pela depreciação cambial recente. “Os núcleos de inflação têm se mantido acima do valor compatível com o atingimento da meta há meses”, diz a ata.

Diante desse quadro, o Copom afirma ser necessário manter a política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado, com o objetivo de assegurar a convergência da inflação à meta.


No entanto, o comitê mostrou mais confiança no processo de desaceleração da atividade econômica. De acordo com a ata, os juros elevados já têm contribuído e vão continuar ajudando a moderar o crescimento da economia. Para o Copom, o aumento do comprometimento da renda familiar pode ser uma antecipação de uma menor demanda por crédito, que já apresenta recuo de concessões em algumas linhas.

Cenário externo deteriora e amplia riscos para emergentes

A ata também ressalta o agravamento do ambiente internacional, especialmente em função da política comercial dos Estados Unidos e seus reflexos sobre o crescimento global. O Copom cita um aumento significativo da incerteza global, com impactos nos investimentos, nas decisões de consumo e nas condições financeiras internacionais, o que impõe desafios adicionais à condução da política monetária no Brasil.

A combinação entre o “tarifaço” de Donald Trump, a volatilidade do câmbio e a desaceleração da economia dos EUA cria um ambiente adverso para países emergentes, o que exige cautela adicional. O Copom também observou que os dilemas enfrentados pelo Federal Reserve — o banco central norte-americano —, ao lidar com o impacto inflacionário da política tarifária, aumentam os riscos de contágio global.

Com a inflação alta, os juros também subiram, alcançando o maior patamar dos últimos vinte anos | Foto: Shutterstock

“O cenário então se apresenta com incerteza muito maior, o que já tem provocado mudanças nas decisões de investimento e consumo”, diz a ata. “Ainda é cedo para concluir qual será a magnitude do impacto sobre a economia doméstica, que, por um lado, parece menos afetada pelas recentes tarifas do que outros países, mas, por outro lado, é impactada por um cenário global adverso.”

Foi diante da combinação de inflação persistente, expectativas desancoradas, desaceleração ainda incipiente da atividade doméstica e riscos externos elevados que o Banco Central decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros na semana passada. 

O Copom deixou em aberto seus próximos passos, o que tem faz o mercado financeiro a especular sobre a possibilidade de término do ciclo de alta de juros em junho. A atuação futura vai continuar sendo orientada pelos dados e pelo comportamento da inflação, com foco na convergência à meta e na preservação da credibilidade da política monetária, conclui o documento.

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