A possível entrada do deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) na Secretaria-Geral da Presidência acirrou a disputa entre movimentos sociais por espaço no governo Lula.
Embora a nomeação ainda não tenha sido oficializada, a mera sinalização do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi suficiente para acender o alerta entre líderes de movimentos historicamente ligados ao Partido dos Trabalhadores, informou nesta quarta-feira, 14, a Folha de S.Paulo.
O temor não diz respeito à presença de um representante dos movimentos sociais no ministério — mas à concentração de poder nas mãos do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), comandado por Boulos por mais de uma década.
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Dirigentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Central de Movimentos Populares e de outras frentes comunitárias relatam desconforto com a possibilidade de o grupo de Boulos dominar a articulação do governo com a sociedade civil organizada.
A preocupação se sustenta em experiências recentes. Um exemplo recorrente nas críticas é a Secretaria Nacional de Periferias, vinculada ao Ministério das Cidades.
A pasta, dirigida por Guilherme Simões — aliado de Boulos e também do MTST —, virou alvo de queixas por não manter diálogo com outras organizações populares. Segundo lideranças, há receio de que esse padrão se repita na Secretaria-Geral da Presidência, caso o psolista assuma o posto.
Márcio Macêdo, atual titular da secretaria, distribuiu cargos entre diferentes movimentos desde o início do governo. A eventual substituição por um nome diretamente vinculado a apenas uma frente social é vista como um desequilíbrio na representação interna.
Para dirigentes que acompanham de perto a estrutura da pasta, a escolha de Boulos reforçaria um protagonismo desproporcional do MTST, considerado por muitos como um grupo minoritário no universo dos movimentos sociais.
Apesar das críticas, aliados de Boulos afirmam que ele deve buscar ampliar a interlocução e garantir espaço a todas as frentes.
Com indicação de Boulos, Lula quer reconquistar apoio de setores da esquerda
Internamente, o Psol avalia que a entrada do deputado em um ministério fortaleceria o elo com o governo Lula, sobretudo depois da tentativa frustrada de conquistar a Prefeitura de São Paulo em 2024.
Na disputa, o presidente apoiou diretamente Boulos, que avançou ao segundo turno, mas Ricardo Nunes (MDB) o derrotou com o suporte do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A indicação também se insere no esforço de Lula para reconquistar apoio entre setores da esquerda. Depois das mudanças no comando do Ministério das Mulheres, a substituição de Macêdo seria mais um gesto de reaproximação com o campo progressista.
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Ao mesmo tempo, a movimentação pode isolar ainda mais o centro político dentro do governo, em um momento de incerteza sobre a organização de aliados para as eleições de 2026.
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