O recente conclave que escolheu o novo papa Leão XIV revelou a incapacidade da imprensa nacional em lidar com uma instituição como a Igreja Católica, híbrida de matéria e espírito. Formados numa mentalidade ultrassecular e materialista, a maioria dos jornalistas que cobriram o evento só conseguiu olhar para o seu aspecto mundano, num tipo de interpretação consagrada em obras de ficção como o recente filme Conclave, do diretor Edward Berger, que enfoca exclusivamente a disputa política pelo trono do sucessor de São Pedro.
+ Leia notícias de Cultura em Oeste
Adeptos inconscientes de uma filosofia “progressista” da história — segundo a qual a passagem do tempo implica necessariamente um aprimoramento moral da humanidade, e, portanto, concede ao homem contemporâneo o privilégio de se portar como juiz e palmatória dos homens de eras passadas —, muitos dos nossos jornalistas esperam que a Igreja se mantenha up-to-date com as últimas tendências em avanço social e igualdade de gênero, e é invariavelmente sob esse critério de “avanço” ou “atraso” que eles interpretam o conclave. Mal equipados cultural e cognitivamente para compreender a natureza sui generis de uma instituição simultaneamente espiritual e temporal, também os “especialistas” midiáticos convidados pela imprensa são, em geral, incapazes de conceber a ideia de Igreja como corpo místico e visível de Cristo, fundada e instituída por nenhum outro além d’Ele.
Os primórdios da Igreja Católica
Autor de uma obra monumental sobre a história eclesiástica, e especialista de fato, Daniel-Rops observa sobre os primórdios da Igreja:
“O próprio sucesso do cristianismo no plano temporal prova que o seu desenvolvimento obedeceu a essa lei profunda da história segundo a qual um movimento, para se desenvolver, precisa de quadros sólidos, de um princípio de comando, de um método de ação, e tudo isso em estreita relação, como que fazendo corpo com a doutrina. O próprio Jesus, aliás, tinha transmitido essas estruturas aos seus discípulos: para quem souber ler os Evangelhos, um dos aspectos mais admiráveis da sua atividade sobre a terra é o esforço prático de organização e de instrução que realizou, e cujos efeitos se prolongaram até os nossos dias. Tudo nos prova que Jesus, Deus feito homem, sabia perfeitamente que, para lhe sobreviver, a sua obra teria necessidade de instituições humanas (…) [A] preeminência de Pedro, cuja importância será considerável quanto às suas consequências na história cristã, assenta também sobre uma declaração expressa do Mestre, que quis dar à sua fundação um princípio hierárquico; Cristo nitidamente designara, como ‘a pedra sobre a qual a sua Igreja seria construída’, este homem de coração generoso: Simão, a velha rocha.”
A ignorância quanto à essa origem e a esse sentido explica o fiasco da cobertura.
Leia também: “Jornalistas já querem dar lição ao papa Leão XIV”
O post A imprensa e a Igreja apareceu primeiro em Revista Oeste.