A gripe aviária chegou às granjas comerciais do Brasil e acendeu o alerta no setor agropecuário. Embora a principal preocupação recaia sobre as exportações, a estimativa é que os produtores continuem atuando com intensidade. Antonio da Luz, economista-chefe da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul), trata o episódio como isolado e acredita que a reação será rápida.
Na avaliação do economista, o país mantém um alto nível de biossegurança nos aviários. Ele acredita que as autoridades sanitárias e os agentes do setor intensificarão o controle nos próximos 30 dias. O Brasil segue normas impostas por centenas de mercados internacionais, o que, segundo ele, fortalece a capacidade de resposta diante de situações como essa.
“O Brasil exporta para centenas de países, então temos regras de centenas de países para respeitar, isso vai fazendo com que a gente seja cada vez mais forte”, disse ao jornal Folha de S.Paulo. “A gente acredita muito nos protocolos dos aviários.”
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Nesta sexta-feira, 16, técnicos interditaram uma granja em Montenegro, no Rio Grande do Sul. O local foi identificado como foco da infecção. Uma faixa com a inscrição “propriedade interditada” aparece na entrada da área rural, acompanhada de um cone de sinalização e uma estrada de terra.
Mesmo sob impacto, os números indicam resistência do setor. O Rio Grande do Sul passou por eventos extremos recentes, como as chuvas em 2024 e a estiagem de 2025. Ainda assim, o Estado registrou crescimento de 15% nas exportações de carne de ave entre janeiro e abril deste ano. Em 2024, vendeu US$ 1,3 bilhão em frango ao mercado externo, dentro dos US$ 9,7 bilhões totais do Brasil.
As entidades representativas da avicultura adotaram uma postura de cautela. A ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) e a Asgav (Associação Gaúcha de Avicultura) informaram que tomaram medidas rápidas para conter o avanço do vírus. Segundo elas, a situação está sob controle e segue monitorada pelos órgãos competentes.
A China e a União Europeia suspenderam as importações de carne e ovos brasileiros por 60 dias por causa da gripe aviária
As barreiras comerciais já começaram. A China e a União Europeia suspenderam as importações de carne e ovos brasileiros por 60 dias, conforme informou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. A Argentina também bloqueou a entrada de produtos avícolas brasileiros. Outros países podem adotar ações semelhantes nos próximos dias.
A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) orientou os avicultores a reforçarem os protocolos de biossegurança. A entidade destacou que o consumo de carne e ovos continua seguro. O vírus não se transmite por meio da ingestão desses alimentos.
Em relação aos preços, pode haver uma redução pontual ao consumidor. Antonio da Luz explica que esse efeito tende a ser passageiro. O ciclo das aves é curto, com média de 30 a 40 dias. Isso permite uma rápida adaptação da produção à nova demanda. Segundo ele, parte do que seria exportado deixará de ser produzido, mas o mercado interno seguirá abastecido.
“O mercado interno vai ficar abastecido como sempre esteve”, enfatizou Luz. “Num primeiro momento, vamos ter um desequilíbrio, isso vai ter que ser reorganizado dentro da economia brasileira, mas aquilo que era para exportar provavelmente não vai ser produzido ou vai ser produzido menos, mas ninguém vai tirar totalmente o pé do acelerador porque logo logo a gente vai estar exportando de novo.”
Com a confirmação da gripe aviária em granjas comerciais, o Brasil perdeu o status de grande exportador livre da doença. A circulação do vírus já era registrada em aves silvestres desde 2023, mas o avanço para ambientes de criação intensiva altera o cenário. A presença da doença no Rio Grande do Sul é explicada, em parte, pela migração de aves, já que o Estado funciona como uma das primeiras rotas de parada.
Na mesma sexta-feira, 16, a Secretaria da Agricultura do Estado confirmou outro foco da doença. Cisnes e patos morreram no Parque Zoológico de Sapucaia do Sul, a cerca de 34 km de Porto Alegre. O Estado agora registra dois pontos ativos da infecção.
A variante H5N1, causadora da gripe aviária, pertence à família dos vírus influenza. Em aves, apresenta alta letalidade, especialmente em granjas com grande concentração de animais. Essa mutação não é nova. Um ancestral já foi identificado em gansos, em 1996. Até agora, o consumo de carne ou ovos de animais contaminados não representa risco à saúde humana.
Casos de transmissão para humanos são raros e exigem contato direto com animais vivos infectados ou ambientes contaminados. Nos Estados Unidos, o vírus chegou a infectar bovinos, com registro de contaminação em pessoas que atuavam no manejo do gado. No Brasil, ainda não há casos semelhantes.
O post Gripe aviária: ‘Ninguém vai retirar o pé do acelerador’, diz federação de agricultura apareceu primeiro em Revista Oeste.