Embora haja apenas um registro de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil, os efeitos do episódio atingem toda a indústria nacional. O caso isolado de contaminação levou à suspensão das exportações de frango para 17 destinos internacionais. Agora, a indústria enfrenta um impasse: congelar a carne, vender no mercado interno ou tentar redirecioná-la a outros países?
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Esses mesmos mercados importaram, em média, cerca de 135 mil toneladas de carne de frango por mês em 2024 — o equivalente a 10% da produção nacional no período. Em contraste, o rebanho do município onde ocorreu a contaminação representa um traço estatístico dentro do volume total brasileiro. Mais ainda: trata-se de uma granja sem ligação direta com a cadeia alimentar.
Gripe aviária no Brasil
Até agora, o único registro da doença em uma granja profissional ocorreu em Montenegro, no Rio Grande do Sul. Em termos comparativos, o rebanho local é como um copo d’água diante de uma caixa de mil litros.
A granja afetada produzia exclusivamente ovos fertilizados — ou seja, destinados à reprodução. Os filhotes gerados, sim, seriam futuramente abatidos para a produção de carne. Assim, na prática, não há registro de gripe aviária em aves criadas diretamente para alimentação humana no Brasil — pelo menos não em criações profissionais. Nessas, a fiscalização e o controle sanitário são rigorosos.
Indústria brasileira
Cerca de 90% da criação brasileira de frangos de corte ocorre por meio do sistema de integração com os frigoríficos. Nesse modelo, as empresas fornecem os insumos — como genética (os filhotes) e ração — e monitoram de perto o processo de engorda, que é feito pelos produtores integrados. O objetivo: garantir os padrões sanitários e de qualidade exigidos pelos mercados mais rigorosos do mundo.
A cadeia produtiva nacional tem reconhecimento internacional. O McDonald’s é uma das muitas corporações globais a atestar esse padrão de excelência — nada menos que a mais famosa rede de fast-food em todo o planeta.
Em 2021, por exemplo, a fábrica da BRF em Toledo (PR) recebeu o prêmio de melhor fornecedora de carne da Arcos Dourados, franqueadora do McDonald’s para a América Latina e o Caribe. A empresa responde por 2,4 mil restaurantes da rede na região.
Fundada no Brasil, a BRF é hoje um gigante global no setor de alimentos, com marcas icônicas, como Sadia e Perdigão. O conglomerado atraiu o interesse de grandes investidores internacionais — incluindo a realeza da Arábia Saudita, que detém cerca de 10% das ações da empresa.
O investimento mira mais do que lucro. A realeza também quer aprender com a expertise do Brasil em produzir carne de frango com alto padrão sanitário — e livre de doenças, como a gripe aviária.
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