Disputa bilionária entre empresários expõe vínculos familiares no STF

A briga pelo controle da Imcopa, empresa paranaense de derivados de soja, revela uma teia de conexões entre escritórios de advocacia e familiares de integrantes da cúpula do Judiciário. O jornal Folha de S. Paulo divulgou as informações nesta terça-feira, 20.

O caso, que envolve cifras bilionárias e acusações de fraude contratual, colocou em lados opostos nomes ligados a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O embate judicial gira em torno da disputa entre o empresário Walter Faria, dono do Grupo Petrópolis, e os investidores Renato Mazzucchelli e Ruy del Gaiso.

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Desde 2019, eles travam uma batalha nos tribunais pela posse dos créditos da Imcopa. A empresa está em recuperação judicial desde 2013, com passivos estimados em R$ 3,3 bilhões.

O processo tramita em diferentes instâncias — incluindo o STJ, a Justiça Federal do DF e o Judiciário paranaense. Pelo menos dez familiares de ministros atuaram na defesa de um dos lados envolvidos.

Estão entre eles parentes de Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Kassio Nunes Marques e Luis Felipe Salomão.

O Grupo Petrópolis, por exemplo, contou com advogados ligados a Gilmar Mendes. Entre eles estão sua filha Laura Schertel, a enteada Maria Carolina Tarelho e os primos Pedro e Maria Sabo Mendes.

Já do lado da Crowned — empresa criada em Luxemburgo para gerir investimentos de Faria — estiveram Guiomar Mendes, mulher do ministro, e suas filhas Daniele e Maria Carolina. A esposa de Zanin, Valeska Martins, também integrou a defesa da Crowned.

Como resultado, a atuação familiar reacende o debate sobre conflitos de interesse no sistema judicial. Segundo a lei, magistrados devem se declarar impedidos de julgar processos em que parentes ou cônjuges tenham participado.

Empresa de fachada e troca de advogados acirram tensão nos bastidores

Walter Faria alega que foi vítima de um “golpe” durante sua prisão na Operação Lava Jato, em 2019. Segundo ele, Mazzucchelli, Gaiso e seu ex-aliado Naede de Almeida teriam usado seus recursos para investir na Imcopa com a promessa de que ele assumiria os créditos posteriormente. O empresário diz ter sido traído por meio de uma alteração contratual fraudulenta.

Do outro lado, os investidores negam qualquer irregularidade e afirmam que Faria abriu mão dos valores até 2025, conforme contrato. Inclusive, eles acusam o empresário de tentar reescrever os termos do acordo.

A disputa também envolve controle sobre a própria Crowned. Na semana passada, o advogado Ricardo Ferrari pediu a destituição da equipe jurídica da empresa, alegando irregularidades.

A solicitação, portanto, gerou reação da R2C Holdings — empresa dos investidores —, que afirmou que Ferrari não tem legitimidade para fazer a troca. A resposta foi assinada por Guiomar Mendes, Daniele Mendes, Valeska Martins e outros nomes.

Grupo Petrópolis diz ter vencido a disputa no DF e nega conflito de interesses

O Grupo Petrópolis informou que venceu a ação principal em Brasília, com decisão favorável da Justiça Federal. Segundo a nota, todos os pedidos contra Mazzucchelli e Gaiso foram acolhidos, e os advogados foram contratados antes do início do litígio.

A empresa também afirmou que, atualmente, nenhum advogado ligado a ministros do STF ou do STJ representa a Crowned. Contudo, procurados pela Folha, os ministros envolvidos não quiseram comentar o caso.

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Familiares citados também optaram por não se manifestar, com exceção de Guiomar Mendes, que declarou que a atuação dos filhos em causas jurídicas é natural e que não houve sobreposição entre sua atuação e a da filha no caso.

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