Lentidão e burocracia travam setor de tecnologia na Europa

A indústria de tecnologia avança a passos largos em todo o mundo, mas a Europa tem ficado para trás. Um artigo publicado pelo Wall Street Journal nesta segunda-feira, 19, mostra que o continente abriga apenas quatro das 50 maiores empresas de tecnologia do mundo, apesar de ter uma população numerosa, altos níveis de educação e representar 21% da produção econômica global.

Entre as causas para esse atraso estão a cultura empresarial avessa ao risco, regulamentações complexas, leis trabalhistas rígidas, escassez de capital de risco e baixo crescimento econômico e demográfico.

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“Se eu olhar para o quão rapidamente as coisas mudam no Vale do Silício… está acontecendo tão rápido que não acho que a Europa consiga acompanhar essa velocidade”, afirmou Thomas Odenwald, executivo alemão que deixou os Estados Unidos para tentar fomentar a IA na Alemanha, mas retornou ao país depois de dois meses.

Segundo o artigo, a Europa tem dificuldade em criar empresas disruptivas. Enquanto os EUA geraram 241 companhias com valor de mercado superior a US$ 10 bilhões nos últimos 50 anos, a Europa criou apenas 14.

Nos Estados Unidos, as dez maiores empresas atualmente foram fundadas, em média, no ano de 1985. Na Europa, as dez maiores empresas têm data média de fundação em 1911, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

A lentidão é um fator recorrente. “Na Alemanha, muitas pessoas são cautelosas demais”, disse Karlheinz Brandenburg, inventor do formato MP3, ao recordar que empresas europeias não apostaram em seu projeto. Para Fabrizio Capobianco, empreendedor italiano, “os norte-americanos tomam decisões muito rápido; os europeus precisam conversar com todos — leva meses.”

Além da lentidão, há entraves regulatórios. “Quando os alemães falam sobre IA, o primeiro tópico é ética e regulação”, disse Han Xiao, fundador da startup Jina AI, que decidiu transferir sua empresa de Berlim para os EUA.

Europa impõe barreiras ao avanço da tecnologia e da inteligência artificial

Xiao relatou que enfrentou barreiras na contratação e demissão de funcionários, além de dificuldades em levantar capital. “O mercado europeu para tecnologia de IA é muito pequeno”, afirmou o empresário.

A legislação também pesa no orçamento. Segundo pesquisa da Amazon citada no artigo, empresas europeias gastam 40% de seus orçamentos de TI apenas para cumprir normas regulatórias. A mesma pesquisa mostrou que dois terços das empresas não compreendem suas obrigações sob a nova Lei de IA da União Europeia.

Empresas promissoras também preferem estabelecer relações com companhias norte-americanas. A DeepMind, do Reino Unido, foi adquirida pela Alphabet (Google) em 2014. A francesa Mistral AI firmou acordos com Microsoft, Google e Amazon. A holandesa Bird anunciou que transferirá suas operações principais para fora da Europa, por causa de restrições regulatórias.

Apesar das dificuldades, o continente possui centros de pesquisa de excelência e profissionais altamente qualificados, muitos dos quais integram empresas norte-americanas.

Imagem da cidade de Barcelona, na Espanha; um dos lugares da Europa que tem aumentado as taxas de turismo | Foto: Bearfotos/Freepik
Imagem da cidade de Barcelona, na Espanha; um dos lugares da Europa que tem aumentado as taxas de turismo | Foto: Bearfotos/Freepik

Investimentos de capital de risco têm crescido com a chegada de grandes firmas como Sequoia e Lightspeed, e casos de sucesso como Spotify, Revolut e Klarna demonstram que há potencial. “A Europa é um mercado muito menor, mas isso não significa que não tenha grandes oportunidades”, disse Luciana Lixandru, da Sequoia Capital.

No entanto, para analistas como Andrew McAfee, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o problema principal não é falta de verba pública, mas sim a escassez de capital privado, em razão de regulações e barreiras estruturais. “Foi quando passei de balançar a cabeça em concordância para bater a cabeça na mesa”, declarou.

O artigo conclui que, enquanto os EUA e a China investem fortemente em IA e outras tecnologias emergentes, a Europa corre o risco de perder mais uma revolução tecnológica e repetir o que já ocorreu na era digital.

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