A primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, ironizou sua antecessora, Michelle Bolsonaro, durante entrevista divulgada nesta sexta-feira, 23. Ela também comentou polêmicas diplomáticas, como a crítica ao Tik Tok feita em jantar com o líder chinês Xi Jinping e o xingamento ao bilionário Elon Musk proferido em um evento do G20.
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Questionada pelo jornal Folha de S.Paulo sobre contar com maquiador em viagens, respondeu com sarcasmo: “Não sou essas, você está confundindo a primeira-dama. Então, é a outra, não sou eu”. Janja disse que passar a própria roupa, fazer o próprio cabelo e se maquiar durante as viagens “às vezes é exaustivo”.
Fotos nas redes sociais mostram Michelle acompanhada do maquiador uruguaio Agustín Fernandez em eventos internacionais, como a cerimônia de posse de Donald Trump, em Washington. Durante o mandato de Jair Bolsonaro, a dupla foi ao funeral da rainha Elizabeth II, em Londres.
Janja também comentou a polêmica em sua viagem à China, no começo de maio. Ao lado de Lula, ela tomou a palavra durante um jantar com Xi Jinping para criticar o TikTok — rede social chinesa — e defendeu a regulamentação das redes. Lula reclamou do vazamento da conversa à imprensa.
Integrantes da comitiva presidencial consideraram a fala uma gafe, que causou desconforto entre os presentes na ocasião. “Não foi quebra de protocolo nenhum, nós estávamos num jantar, conversando, não entrei numa sala gritando”, rebate Janja. “Quer dizer, eu não posso falar? Não sou um biscuit de porcelana.”
A primeira-dama disse ainda não ter sido repreendida por Lula, com quem afirma manter diálogo aberto. “Ele nunca falou para mim ‘não fale, fique quieta’. Se ele fosse essa pessoa, eu jamais teria casado com ele”, disse à Folha. “Não existe a possibilidade de falar alguma coisa, e vamos combinar que eu tenho bom senso e me considero inteligente.”
Janja falou ainda ter tido a possibilidade de pedir ao mandatário russo, Vladimir Putin, para acabar com a guerra na Ucrânia, o que não fez por entender se tratar de um tema delicado para uma reunião oficial.
Sobre a crítica ao TikTok, ela justifica estar preocupada com os riscos para crianças. Na entrevista, Janja citou casos como o da menina Sarah Raissa, de 8 anos, que morreu depois de seguir um desafio da plataforma. A menina inalou desodorante em spray, ao seguir uma tendência na rede social apelidada de Desafio do Desodorante.
Janja não se arrepende do xingamento a Musk
O jantar com Xi Jinping não foi o primeiro mal-estar político de Janja. Em novembro, ela causou polêmica em um evento do G20, no Rio de Janeiro, ao dizer “fuck you” — em português, “vá se f*der” — a Elon Musk. O dono da Tesla já era próximo ao então recém-eleito presidente dos EUA, Donald Trump. A primeira-dama admite se arrepender da ocasião em que proferiu o xingamento, mas reitera o conteúdo da fala.
A Janja chamando de “regulamentação” a CENSURA estatal na China e se perguntando “Por que é tão difícil falar disso no Brasil?”
Ora minha cara primeira dama, talvez porque nós supostamente sejamos uma democracia e censura não é algo condizente com o que uma democracia diz ser.… pic.twitter.com/7jQqqCCDdj
— Mafinha (@MafinhaBarba) May 23, 2025
“Eu me arrependo por conta da minha equipe, porque trabalhamos muito para o G20, no ano passado”, explicou à Folha. “Não é da fala que me arrependo, mas do momento.” Ela diz manter oposição a Musk. “Fazer crítica a ele eu sigo fazendo, porque ele continua sendo o que está acima do bem e do mal, se acha o dono do mundo.”
Apesar das polêmicas, Janja garantiu que continuará atuante nos bastidores da política e nas agendas presidenciais. Ela afirma não saber se está abrindo caminho para futuras primeiras-damas, mas espera que enfrentem menos incompreensão da opinião pública, o que ela diz estar enfrentando agora.
“Qualquer movimento que eu faça, se eu falo é porque eu falo, se eu não falo é porque não falo”, comenta. “Óbvio que entendo o movimento da oposição. O que não entendo são outras mulheres que deveriam estar entendendo o que está acontecendo no momento político do Brasil, e não simplesmente virar a bazuca contra mim.”
Em 2023, a mulher de Lula foi a única primeira-dama a participar da cúpula do G20, na Índia, ao lado dos chefes de Estado das 20 maiores economias do mundo. À Folha, ela justificou sua presença pelo desejo de “ouvir o que os homens estavam decidindo”.
Reeleição de Lula é assunto dele, afirma primeira-dama
Apesar da postura participativa, Janja afirma descartar seguir carreira na política institucional. Ela diz querer, ao fim do mandato de Lula, “querer aproveitar a vida com seu marido”, com quem trocava cartas enquanto ele estava preso.
“Tudo o que eu escrevi para o meu marido em 580 dias de cadeia, de a gente ter uma vida, passear, de conhecer lugares juntos, eu ainda sonho em fazer”, afirmou a primeira-dama. Lula ficou preso de abril de 2018 a novembro de 2019, na sede da Polícia Federal, em Curitiba (PR).
A primeira-dama afirmou cuidar de Lula no cotidiano. Disse que evita, por exemplo, que o marido passe a maior parte do tempo sentado à mesa e o encoraja a fazer caminhadas no gabinete. Ela diz pedir também para que os assessores vigiem se o petista toma muito café depois do almoço, pois pode atrapalhar o sono dele.
🚨 Monstruoso: Lula diz que “tudo bem” bater em mulher “se o cara for corintiano”. pic.twitter.com/6fu8PRXnqb
— ALBERTO IANNUZZI (@ALBERTOIANNUZZ6) July 16, 2024
Janja também comentou não minimizar comentários machistas do marido. Em julho, Lula fez piada sobre o aumento de violência doméstica depois de jogos de futebol: “se o cara é corintiano, tudo bem, como eu, mas eu não fico nervoso quando perco, eu lamento profundamente.”
A primeira-dama disse ter conversado com o marido e criticado a fala. “Eu não passo pano para ele, não. Ele me escuta, claro. Aquele episódio lá do Corinthians, quando ele falou aquela bobagem, eu falei para ele ‘não faz isso comigo’.”
Por fim, ela afirma não ter pretensão de interferir na decisão de Lula sobre disputar ou não a reeleição. “Estou ao lado dele para a decisão que ele tomar. Nesse momento, não é uma vontade minha. A decisão que meu marido tomar eu vou estar ao lado dele. E ele sempre fala que, se ele estiver forte de saúde, vai por esse caminho [a candidatura].”
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