Em meados de maio de 2025, fomos “surpreendidos” com a publicação de mais um trabalho científico que mostrou um impressionante congelamento antártico, com uma reposição significativa de neve e gelo. O que poucos informaram é que esse padrão de reposição de massa e as baixas temperaturas já ocorrem desde 2007, quando acontecia o III Ano Polar Internacional, que durou até março de 2009. Mesmo se alternando ano a ano em perda e ganho de massa, ação natural de um continente congelado com 14 milhões de quilômetros quadrados e cercado por oceanos, o cômputo destas duas décadas demonstrou que não apenas há mais gelo, mas também que as temperaturas antárticas estiveram também baixas, contrariando o discurso de que elas apenas se elevam sistematicamente.
A turma do alarde climático gosta de mostrar que qualquer evento meteorológico é prova de “aquecimento global”, quando, na verdade, fazem parte da variabilidade natural do tempo. Claro que também confundem esses mesmos quadros com clima, o que é mais lastimável. Atualmente, quando a situação se inverte, enquadram qualquer caso como oriundos das “mudanças climáticas”, todas elas causadas pelas atividades humanas, mas nem sempre foi assim, porque, há poucos anos, quando as temperaturas baixaram significativamente em ambos os polos, eles conseguiram apontar que as ocorrências de frio com alta precipitação de neve eram também oriundas do “aquecimento global”. Aquece o planeta e neva mais.

A escalada de temperaturas baixas tomou ambos os hemisférios desde 2007 com nevascas nos lugares mais inusitados, como alguns locais no Oriente Médio, África do Sul, França etc. Mas foi na Antártida que as coisas ficaram interessantes. Os platôs próximos das Montanhas Ellsworth, Antártida (80o18’S 081o20’W) receberam cerca de três a seis metros de neve em um ano, entre 2007 a 2008. A área nas adjacências dos Montes Patriota foi a mais atingida.
Na região insular Norte da península Antártica, a ilha Rei George/25 de Maio, pertencente ao arquipélago das Shetland do Sul, registrou um dos anos mais frios desde 1941. De 2009 até 2015 as temperaturas continuaram baixas, congelando significativamente o oceano polar, com extensões ainda muito largas de gelo inclusive no verão. O gelo flutuante foi tão intenso que algumas embarcações se acidentaram neste período. A primeira ocorrência foi em 23 de novembro de 2007. Tratava-se do navio turístico M/V “Explorer” que, após colidir com um growler mais avantajado (um pequeno iceberg tabular baixo, com cerca de um metro de altura), teve seu casco perfurado.
Antes que o navio começasse a adernar para o lado de boreste (direito), o capitão deu ordem de evacuar o navio. Os passageiros e tripulantes foram resgatados após cinco horas nos botes salva-vidas pelo navio norueguês MS “Nordnorge” e o norte-americano “Endeavour”. A tragédia não foi maior porque as condições meteorológicas foram providencialmente excelentes, com ampla visibilidade, sem ocorrência de tempo significativo e, o mais importante naquela região do mar antártico, uma situação de calmaria, ou seja, sem ventos.
Vale lembrar que o Navio de Apoio Oceanográfico — NApOc “Ary Rongel” da Marinha do Brasil — MB, durante a OPERANTAR XXVI, participou das operações de resgate, pois se encontrava muito próximo ao local. Segundo o seu livro de bordo, o navio lançou um de seus helicópteros UH-13 Esquilo Biturbina em sentido ao local do SOS, verificando que os navios “Nordnorge” e “Endeavour” haviam resgatado todas as pessoas, não necessitando de evacuação aeromédica. Poucas horas depois, enquanto os resgatados eram desembarcados na estação chilena de Frei Montalva, também posicionada na ilha Rei George, o “Ary Rongel” chegava ao local, recolhendo quatro dos barcos de salvamento (estilo baleeiras), rebocando-os para a EACF — Estação Antártica Comandante Ferraz do Brasil que também se localiza na mesma ilha.
O M/V “Explorer” não durou muito, pois a inundação de seus compartimentos continuou a adernar o navio até que ele se deitasse completamente. Cerca de 20 horas depois ele afundou e hoje se encontra a aproximadamente 1.100 metros de profundidade. A investigação não teve um desfecho satisfatório e alegou-se que a pouca experiência do capitão em distinguir gelo recente do mar congelado em relação aos blocos mais antigos e massivos teria sido a causa do acidente.
O que poucos reportaram foi a estranha presença ainda destes blocos massivos e antigos em área tão periférica do campo de gelo nesta região subantártica. Isto sugere que tanto pelo efeito da água apresentar-se bastante fria, quanto pelas baixas temperaturas atmosféricas, houve uma preservação maior destes grandes blocos por mais de um ano. Eles podem ser facilmente reconhecidos pelas imagens do naufrágio, e tudo isto ocorreu no primeiro ano do III Ano Polar Internacional.
Vale lembrar que o M/V “Explorer” já havia passado por situações inusitadas na Antártida em períodos frios semelhantes. Em outros anos também considerados muito frios, ele chegou a encalhar, mas sem incidentes e danos estruturais significativos. A primeira vez ocorreu em 1972, justamente no ano que as imagens de satélite foram liberadas para a área científica civil. Na ocasião, a Marinha de Chile resgatou seus passageiros e a Marinha Argentina rebocou o navio quando ele se soltou. Depois, em 1979, outro ano muito frio, o mesmo ocorreria novamente e mais uma vez o navio ficou encalhado no gelo, justamente no Natal, em 25 de dezembro. Os passageiros foram resgatados, mas uma tripulação mínima permaneceu a bordo, aguardando a chegada de um potente rebocador.
Em abril de 2012, foi a vez de uma embarcação brasileira. O iate “Mar sem Fim” ficou preso pelo gelo, bem próximo também da ilha Rei George, enquanto fazia um documentário sobre “aquecimento global e afins”. O barco acabou afundando pouco mais de meia-nau e foi necessária uma operação de resgate efetuada pelo Navio de Socorro Submarino NSS – “Felinto Perry” da MB (designativo K11, já desativado) que, com apoio da estação russa de Bellingshausen, da chinesa Grande Muralha e da base chilena de Frei, todas localizadas na ilha Rei George, acabaram por realizar o resgate. Os mergulhadores conseguiram a reflutuação do iate em 31 de janeiro de 2013.
Seriam estes sinais de que um período frio marcava seu padrão naqueles anos? Vejamos que não estamos relatando tendências, mas indicando o padrão verificado. São coisas distintas que a turma do alarde não consegue entender. Os dados pretéritos até o momento do tempo avaliado indicam a tendência para aquela sequência de dados. Dali fazer “previsões” é outra história.
O fato é que as marcas de oceano congelado austral foram impressionantes desde então. O ano de 2012, o mesmo em que ocorria a Rio+20 no Rio de Janeiro, em que muitos dos foliões deste carnaval fora de época gritavam “salve o planeta esbaforido”, não vimos o Ártico desaparecer, como prometera a turma do IPCC e seu garoto-propaganda, o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore, e a Antártida marcava mar congelado acima da sua marca média de 1979‑2000, crescendo desde junho até o final do ano e além. Será que teríamos mais novidades a acontecer, tanto no mar, quanto no continente e que podemos relatar agora que saiu essa nova pesquisa sobre a Antártida? Veremos muito mais fatos e dados que corroboram isso.
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