Mascarados com bandeiras nazistas marcham durante peça de Anne Frank nos EUA

Cinco manifestantes mascarados, que usavam bandeiras nazistas e símbolos de supremacia branca, se reuniram para gritar insultos de ódio do lado de fora de um teatro comunitário em Howell, no Michigan, Estados Unidos, na noite do último sábado, 9. Em cartaz, era encenada uma peça sobre Anne Frank, judia alemã que morreu aos 15 anos pela perseguição nazista.

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O grupo de teatro comunitário Fowlerville, que encenou a peça, confirmou a situação na segunda-feira 11. Eles disseram que tomaram conhecimento da presença dos manifestantes, que se identificaram como nazistas, enquanto encenavam o primeiro ato da peça e foram informados de que o grupo foi expulso do local pela polícia.

Embora alguns dos atores tenham se abalado, eles foram capazes de manter a calma e concluírem a apresentação, segundo o grupo. “Essa produção é centrada em pessoas reais que perderam suas vidas no Holocausto“, afirmou a equipe do Fowlerville. “Esforçamo-nos para contar essa história com o máximo de realismo possível.”

“A presença de manifestantes do lado de fora nos deu uma pequena amostra do medo e da incerteza vividos por aqueles que estavam escondidos,” acrescentou o grupo teatral. “Esperamos que, ao apresentar a história de Anne, possamos ajudar a prevenir que as atrocidades do passado aconteçam novamente.”



Um membro da Legião Americana, organização de veteranos do Exército norte-americano, relatou à emissora de TV WLNS que os manifestantes diziam aos policiais que eles apenas protegiam o seu direito à liberdade de expressão. Nos Estados Unidos, fazer apologia ao nazismo não é proibido, de acordo com a Primeira Emenda. Por isso, ninguém foi preso.

Testemunhas disseram que os manifestantes também gritavam insultos antissemitas e racistas. Bobby Brite, ex-comandante da Legião Americana, disse que a plateia do espetáculo ficou chocada. “Tínhamos 75 pessoas assistindo à peça, e entre elas, cerca de 50 ou 60 estavam com medo de sair do prédio, precisamos escoltá-las até seus carros.”

Howell, cidade com cerca de 10 mil habitantes no Condado de Livingston, fica a cerca de 90 km a noroeste de Detroit. O Condado de Livingston já testemunhou outras manifestações antissemitas e racistas neste ano. Em julho, cerca de 12 manifestantes marcharam por Howell, enquanto balançavam bandeiras nazistas e entoavam a saudação nazista “Heil Hitler”.

O Diário de Anne Frank

Hoje considerado um documento histórico, O Diário de Anne Frank traz os relatos de Anne Frank, uma menina judia que manteve um diário enquanto sua família se escondia dos nazistas durante a ocupação da Holanda, na Segunda Guerra Mundial. A família foi presa em 1944. Anne morreu de tifo em um campo de concentração.

O diário começa com os relatos de Anne sobre seu cotidiano na escola, com seus amigos. Porém, o tom se torna mais sombrio à medida que a perseguição aos judeus na Holanda se intensifica, especialmente quando a irmã dela, Margot, foi levada para um campo de concentração.

A jovem alemã morreu pelas mãos do nazismo | Foto: Divulgação/Anne Frank Stichting, Amsterdam
A jovem alemã morreu pelas mãos do nazismo | Foto: Divulgação/Anne Frank Stichting, Amsterdam

“Vivíamos com certa ansiedade, já que nossos parentes que permaneceram na Alemanha não ficaram salvos das leis de Hitler contra os judeus”, relatou Anne. “Depois dos pogroms em 1938, os meus dois tios, irmãos de minha mãe, fugiram e chegaram salvos na América do Norte”.

“Pogrom” é um termo de origem russa que significa “causar estragos” ou “destruir violentamente”. Historicamente, a palavra designa ataques físicos e violentos realizados pela população contra comunidades judaicas, ocorridos tanto no Império Russo quanto em outros países.

Apesar das tensões, a família Frank manteve uma vida quase normal em Amsterdã até a invasão nazista, em 1940. A partir daí, o registro compulsório de judeus na capital holandesa os tornou alvos fáceis. Em pouco tempo, todos já estavam “fichados”. A falsa sensação de paz desapareceu quando Otto Frank, pai de Anne, foi impedido de administrar seu próprio negócio.

“Depois de maio de 1940 foram-se acabando os bons tempos: primeiro a guerra, depois a capitulação, em seguida a entrada dos alemães”, descreveu Anne, em seu diário. “E então, a desgraça para nós, judeus, começou.”

A partir de 3 de maio de 1942, todas as crianças judias na Holanda com mais de seis anos foram obrigadas a usar uma estrela de Davi. No mês seguinte, Anne ganhou o caderno que se tornaria seu diário. Semanas depois, Margot foi convocada para um “campo de trabalho”, que na verdade era um campo de concentração.

Em 4 de agosto de 1944, as famílias Frank e Van Pels foram denunciadas. A empresa foi invadida, e eles foram levados a campos de concentração, acusados de não terem se apresentado voluntariamente durante a primeira convocação dos judeus.

Em 1945, junto com sua irmã, Anne morreu de tifo, uma grave infecção bacteriana, em um campo de concentração. Dos oito que estavam escondidos em Amsterdã, apenas seu pai sobreviveu. Ele foi o responsável por receber o diário, resgatado por duas ajudantes da família.

Desde então, os escritos de sua filha foram publicados em mais de 70 idiomas. O diário já foi adaptado em várias produções de cinema e teatro e costuma ser leitura obrigatória para estudantes do Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial.

Leia também: “Os limites democráticos”, artigo de Rodrigo Constantino publicado na Edição 99 da Revista Oeste

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