De acordo com um artigo publicado no jornal norte-americano The Wall Street Journal no domingo, 17, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está à frente do declínio da democracia e da economia na América Latina.
Na publicação, a colunista Mary Anastasia O’Grady, especialista em política da América Latina, considera irônica a proposta de Lula de acabar com a fome e a pobreza até 2030, uma das principais pautas do G20, que ocorre no Rio de Janeiro. “Suas políticas, tanto internas quanto externas, desde que assumiu o cargo em janeiro de 2023, correm o risco de levar o país a um caminho ainda mais problemático”, afirma.
Mary Anastasia avalia que a democracia na América Latina está em uma “situação terrível”. A crescente influência da China na região está longe de ser o único problema. Segundo a jornalista, o desafio maior é a erosão do capitalismo democrático, que em muitos países está sendo substituído por nacionalismo e autoritarismo.
A escalada autoritária na América Latina
Um exemplo disso é a presidente do México, Claudia Sheinbaum, que assumiu o cargo em 1º de outubro e já consolidou o monopólio de poder iniciado por seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador.
Emendas constitucionais, aprovadas por um Congresso controlado pelo partido Morena, acabaram com a independência do judiciário e dos órgãos reguladores que deveriam limitar o poder do executivo. O crime organizado tomou controle de grandes áreas do país. A iminente falta de energia restringiu o boom de nearshoring que antes parecia certo. O peso está desvalorizado.
“Venezuela, Bolívia, Honduras, Nicarágua e Cuba são refúgios para o tráfico de drogas e também eliminaram a independência institucional. Em El Salvador, a troca de democracia pela segurança pessoal é racional, mas provavelmente será dolorosa a longo prazo. A lei na Colômbia manca fortemente, assim como sua economia.”
Artigo do WSJ classifica Lula como “dinossauro da Guerra Fria”
Em seu artigo, Mary Anastasia também destaca que o Brasil, há muito tempo, aspira substituir os Estados Unidos como hegemonia regional no continente sul-americano. “Mas assumir esse papel requer autoridade moral e peso econômico”, relata. “Lula está desperdiçando ambos”.
O antiamericanismo de Lula foi escancarado depois do resultado das eleições na Venezuela. Enquanto observadores e a comunidade internacional reconheceram a vitória esmagadora de Edmundo González Urrutia, o Brasil, junto de México e Colômbia, decidiu prestar apoio velado à ditadura de Nicolás Maduro.
Essa postura ficou evidente quando a Organização dos Estados Americanos, que defende a democracia na região, realizou uma votação para reconhecer a vitória de González Urrutia. México, Colômbia e Brasil se opuseram, impedindo que a votação acontecesse.
“Como o apoio de Lula à ditadura cubana, isso foi um ato de antiamericanismo, e não uma crença na legitimidade de Maduro.”
Mary Anastasia classifica Lula como uma espécie de “dinossauro da Guerra Fria” do Brasil, agarrado a ideias socialistas utópicas e uma sede de poder que apenas um modelo corporativista altamente centralizado oferece.
“Ele prefere aliados que não insistem em um governo limitado, como os outros membros do grupo Brics — Rússia, Índia, China e África do Sul. O grupo busca reduzir o alcance do dólar e das instituições ocidentais nas finanças internacionais e contornar sanções criando seus próprios mecanismos de empréstimo e moedas alternativas.”
A publicação também afirma que, apesar da postura antidólar, Lula ama a moeda norte-americana. A cúpula governista no Rio de Janeiro defenderá uma proposta de imposto global sobre a riqueza dos ricos, visando arrecadar cerca de US$ 250 bilhões anualmente de 2.800 bilionários.
De acordo com o governo, os recursos serão usados para combater as mudanças climáticas e a pobreza. Para Mary Anatasia, tal ideia é irônica por vir, justamente, de Lula. “A ideia vem de um político cujo Partido dos Trabalhadores supervisionou o maior esquema de corrupção da história da América Latina e que foi condenado — e nunca absolvido — por seu papel nele”, acrescentou.
Economia em risco
Ainda segundo a publicação, enquanto Lula avança em tais ações, a política econômica de seu governo está levando o país por um caminho já conhecido de república de bananas, ao abandonar a responsabilidade fiscal.
O ex-ministro da Economia, Paulo Guedes (2019-22), controlou os gastos cortando a força de trabalho do governo e congelando os salários nominais. Agora, “o déficit fiscal geral do setor público”, informou o Goldman Sachs em 11 de novembro, “está em 9,34% do PIB (em comparação com um déficit de 7,5% há um ano)”.
Mary Anastasia relata que essa imprudência está pressionando o real brasileiro. A inflação está em 4,6% no ano. Para mantê-la sob controle, o banco central teve que aumentar as taxas de juros overnight para 11,25%.
Grandes multinacionais tomam empréstimos a taxas em dólar, mas as pequenas e médias empresas brasileiras enfrentam custos locais punitivos para crédito. Isso não é exatamente Lula cuidando do cidadão comum.
O mandato do respeitado banqueiro central Roberto Campos Neto termina no próximo mês. Lula está substituindo-o por Gabriel Galípolo. “Os mercados estarão atentos para ver se a independência do banco central sobreviverá. Se não, os pobres serão os que mais sofrerão”, completou.
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