Galípolo parece disposto a decepcionar o governo Lula, diz Estadão

Apesar de ser o presidente do Banco Central (BC) indicado pelo governo Lula, Gabriel Galípolo adotou um tom distante da narrativa governista durante uma audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. O discurso não indicou, nem discretamente, a possibilidade de afrouxamento da política de juros. 

As audiências do presidente do Banco Central na CAE do Senado são regulares e repetidas ao menos quatro vezes ao ano. Dessa vez, Galípolo repetiu que o monitoramento dos preços feito pela autarquia indica uma inflação que segue acima do teto da meta (4,5%) e espalhada por uma série de produtos e serviços — além dos alimentos. 

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A julgar pela explicação, o presidente do BC parece disposto a se afastar da imagem do indicado de Lula que “vai consertar a taxa de juros”, segundo editorial do jornal O Estado de S. Paulo publicado nesta quinta-feira, 24. Foi o próprio petista quem havia expressado essa expectativa a respeito de Gabriel Galípolo. 

Roberto Campos Neto Lula veta JBS
Roberto Campos Neto deixou o cargo de presidente do BC em dezembro último | Foto: Vinícius Loures/Câmara dos Deputados

Em entrevista a uma rádio de Macapá (AP) em fevereiro, Lula disse também que só precisaria dar ao presidente do BC “o tempo necessário para fazer as coisas”. No entanto, diz o Estadão, a julgar pelas respostas de Galípolo aos senadores, “pode ser que seu calendário não esteja ajustado ao do lulopetismo”.

Em vez de acenar para cortes na taxa Selic, Galípolo indicou que a economia brasileira talvez precise de doses ainda mais fortes de aperto monetário para conter a demanda aquecida — mesmo com os juros já em patamares elevados. Consciente de que seria muito cobrado na audiência, ele adotou uma estratégia calculada, na avaliação do Estadão, como o uso de metáforas.

Para justificar os juros de 14,25% ao ano em uma economia com forte demanda, o presidente do BC disse, por exemplo, que quando uma festa está muito aquecida “e o pessoal está subindo na mesa”, tira-se a bebida da festa.


Próxima reunião do Copom será a 1ª totalmente sob Galípolo

A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) será a terceira do ano e a primeira sob a liderança plena de Gabriel Galípolo, sem a influência direta de seu antecessor, Roberto Campos Neto. Ainda assim, o editorial aposta que não haverá mudanças bruscas na condução da política monetária.

Tanto a reunião de janeiro quanto a de março aumentaram a Selic em 1 ponto porcentual e já antecipavam alta dessa magnitude desde dezembro de 2024, quando Campos Neto ainda chefiava o BC. A partir de agora, será somente o “menino de ouro”, como Lula chamou Galípolo.

Na última reunião, todavia, o Copom também antecipou alta “de menor magnitude” caso “o cenário adverso para a convergência da inflação” se mantivesse. Mas desde meados de março, quando a reunião ocorreu, as incertezas aumentaram e seus impactos nos preços ainda não foram integralmente sentidos.

Com a inflação alta, os juros também subiram, alcançando o maior patamar dos últimos vinte anos | Foto: Shutterstock

Galípolo chegou a comentar no Senado que a alta de juros não está apresentando, para a economia, a mesma fluidez observada em outros países e disse que talvez existam “canais entupidos”. Em suma, o presidente do BC estranhou por que juros tão altos ainda não produziram o esperado desaquecimento da demanda que o banco busca para trazer a inflação para o centro da meta de 3% ao ano, diz o Estadão

“Das duas, uma: ou tudo não passa de conversa para acalmar o mercado, ou a lua de mel de Lula da Silva com o BC vai terminar mais cedo do que o previsto”, conclui o jornal. 

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