Suas promessas para 2025 incluem se tornar um leitor?

Dezembro é o mês oficial das promessas. Mas, e se, em vez de prometermos sempre as mesmas coisas para o Ano Novo que se anuncia, nós nos comprometêssemos de forma pragmática e verdadeira, por exemplo, com a leitura. Recentemente, em conversa com um amigo, ele me confidenciou que suas metas de fim de ano sempre falhavam, ora porque se esquecia delas, ora porque eram metas tão radicais que, no curso dos dias de janeiro, ele se desanimava e desistia paulatinamente, isto é, não de forma abrupta, mas lentamente, talvez para manter um pouco de dignidade ante sua fraqueza de vontade.

Existe, na psicologia clássica advinda de Santo Agostinho, e depois aprimorada por Santo Tomás de Aquino, Edith Stein entre outros, a diferenciação de nossas forças psicológicas. Segundo esses autores, nossas mentes são feitas, guiadas e acionadas, pelas emoções, vontades e razão. É esse tripé que, ininterruptamente, nos faz escolher e nos viciar em algo, tomar decisões e garantir prudências heroicas no curso de nossas vidas.

Uma das coisas que podemos, ao adestrar nossas emoções e vontades, é carregar-nos de promessas virtuosas e racionais, e, degrau a degrau, treinar-nos para metas factíveis e realmente engrandecedoras. Uma das promessas possíveis para todos alfabetizados, se bem-feitas, ajustadas, é nos tornarmos, por fim, leitores assíduos. A leitura é um daqueles objetivos extremamente factíveis, que exigem de nós apenas livros cuidadosamente escolhidos, interessantes, que despertem a curiosidade e vontade de ler, e, é claro, uma disciplina mínima de concentração. Seria verborrágico para esta coluna enumerar os benefícios da leitura — mas o farei mesmo assim: concentração mais apurada; um pensamento crítico fundamentado; conhecimento alargado do que é a própria existência, o homem e a realidade; enriquecimento cultural; desenvolvimento profundo da imaginação moral; fuga da realidade imediata e, ao mesmo tempo, encontro com uma realidade mais profunda, conectada à história de nossa civilização e das outras mais. Nenhum leitor assíduo que conheci, e olha que conheço muitos, que busca a leitura como modo de vida, que, nesse processo, naturalmente adentra nos clássicos da literatura mundial, é uma pessoa fútil. Os leitores têm um natural desenlace de ideias e clareza mental muito acima dos que não se importam com essas coisas, e ainda que tudo isso soe um pouco gnóstico, no fundo estou apenas falando de desenvolvimento pessoal e busca interessada por alta cultura.

Não estou aqui pregando um elitismo literário, todos sabem como abomino essa pompa literária que fazem muitos pensarem que abrir um livro no metrô, ou tirar uma foto numa poltrona, com um exemplar de Dostoiévski na mão, já é garantia de eruditismo perpétuo. Muitos de nossos avós nunca leram, e nutriam uma sabedoria típica daqueles que não liam linhas impressas, mas liam a realidade, observavam com cuidado os homens e seus jeitos, faziam da natureza suas enciclopédias, e da paróquia e do bar as suas bibliotecas. Mas, neste artigo, estou falando daqueles que podem obter, se quiserem, o hábito de acessar o maior repositório de humanidade e cultura já criado, a mais bela das máquinas de conhecimento e autocorreção, os livros.

Em janeiro, você pode se arriscar a fazer essa promessa, e mais importante, colocá-la em prática, você pode separar uns 50 mangos, ir à livraria, ou acessar um site, escolher com cuidado, demore o quanto quiser, e, por fim, comprar um livro cuja leitura você vai se dedicar naquele primeiro mês de 2025. Não ligue para os inteligentinhos, se você quiser ler Crime e Castigo de Dostoiévski, vá fundo, verá que a profundidade daquele russo é tão absurda que fará você realmente olhar o mundo com outros olhos — é clichê, eu sei, mas de fato é isso; mas você também pode comprar É Assim que Acaba, de Colleen Hoover, ou A Biblioteca da Meia-Noite, de Matt Haig, e está tudo bem, vá em frente e leia.

Se você realmente não lê nada, ou lê muito pouco, logo notará que seus sentidos, treinados e viciados em telas, sua vontade, acostumada a serotoninas rápidas, sua mente, desfocada por uma realidade que te pede uma fragmentação de sua percepção, tentarão tirar seu foco do livro, levando-o para todos os lugares possíveis, à lembrança da morena, a um mosquito que passeia em cima do fogão, etc., caberá somente a você domar essas emoções e tensões mentais a fim de dirigir forçosamente sua atenção à leitura. É difícil apenas por algum tempo, depois fica mais fácil e, por fim, prazeroso, e quando chegar a isso, a leitura dificilmente sairá da sua vida novamente. Pois a leitura é, também, um entretenimento, porém, um entretenimento profundo e edificante, pois ela faz mais que te distrair de uma realidade cansativa e chata, ela incute de forma linear percepções e noções de mil vidas, mil pontos de vistas que, por mais dedicado que você seja a observações e conversas diárias com estranhos, jamais poderia tê-los com tantas nuances e detalhes como num livro.

Por fim, faça sim o regime do qual tanto precisa, e foque nisso com assiduidade, monte seu cronograma de dietas, vá ao nutricionista e, sem demora, pague a primeira mensalidade da academia; mas também malhe a sua mente, afinal, você não é somente corpo, mas corpo, mente e espírito, e, se for para melhorar, que melhore por inteiro. Tornar-se um leitor é muito possível, é mais fácil, aliás, que perder 20 quilos em 6 meses, vá por mim, eu tenho lugar de fala. Pois bem, sem mais delongas, já sabe qual livro lerá em janeiro?

Leia também: “O conto das mulheres, dos LGBTs, negros e indígenas”, reportagem publicada na Edição 247 da Revista Oeste

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