A aproximação da Rússia com os Estados Unidos (EUA) tem conseguido uma façanha nos últimos dias: dividir com as notícias de Israel as manchetes dos principais jornais israelenses.
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É comum em Israel, algo até criticado em outras partes do mundo, a imprensa local ter um olhar superdimensionado para as questões ligadas ao país. Mas, quando o assunto envolve os EUA e seu principal oponente, o governo russo, a situação tem mudado. Mas não tanto. Este tema, afinal, está diretamente ligado aos interesses de Israel.
A discussão entre o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e Donald Trump, na última sexta-feira 28, só mereceu menos espaço do que a devolução dos corpos de quatro reféns, Tsachi Idan, Itzik Elgarat, Ohad Yahalomi e Shlomo Mantzur, assassinados pelo grupo terrorista Hamas. Mas o que leva esta possível aliança entre o governo de Trump e o de Vladimir Putin ser vista com bons olhos pelas autoridades israelenses?
A questão é simples: a Rússia é o principal sustentáculo para as pretensões do Irã controlar a região. Sem ela, o alicerce iraniano se perde, como pode ser constatado com a derrocada de Bashar a- Assad na Síria, em 8 de dezembro último.
A Rússia, empenhada no conflito com a Ucrânia, deixou de ajudar o governo sírio anterior e também o Irã. Que, enfraquecido pelas respostas de Israel aos seus ataques, freou o suporte financeiro e militar que dava para os grupos terroristas Hamas e Hezbollah.
Trump ao lado de Putin neste momento é um trunfo para Israel. Caso os EUA consigam interromper a guerra na Ucrânia, obtendo em troca acesso a recursos minerais, Putin terá um aliado momentâneo na região.
Com os EUA se contrapondo também a interesses da União Europeia, a Rússia ficará ainda mais à vontade em relação a questões comerciais, como o fornecimento de gás para o continente. Com isso, o panorama do Oriente Médio tenderá a sofrer uma mudança.
“A Rússia se ofereceu para ajudar a administração de Donald Trump a dialogar com o Irã sobre questões como o programa nuclear de Teerã e o apoio a grupos antiamericanos na região”, publicou o The Times of Israel nesta terça-feira, 4.
Segundo o jornal, o Kremlin declarou que os problemas entre os EUA e o Irã devem ser resolvidos por meio de negociações, e que Moscou está disposta a facilitar esse processo.
Israel tinha dúvidas sobre validade de aliança entre EUA e Rússia
A aproximação entre Trump e Putin, inicialmente, gerou preocupações em Israel, que temia que os EUA mantivessem uma postura frágil contra o Irã, especialmente no contexto das ambições nucleares iranianas.
Isto em função do fortalecimento das relações entre Rússia e Irã, com a assinatura de acordos estratégicos e colaborações militares, que incluíram visitas de oficiais russos a locais de produção de mísseis iranianos. Além disso, a Rússia vinha mostrando certa abertura a grupos como Hezbollah e Hamas, o que aumentava as tensões com Israel.
O conflito entre Israel e o Irã, que se intensificou em 2024, incluiu ataques aéreos, missões de mísseis e retaliações. Israel frustrou ataques iranianos através de suas defesas aéreas, com o apoio de aliados. E nas retaliações, acertou alvos estratégicos e limitou a capacidade de combate iraniana.
Trump, inclusive para tranquilizar Israel, já se movimenta no sentido de impedir que o Irã desenvolva armas nucleares. Em 6 de fevereiro, ampliou sanções contra o setor petrolífero do país.
“O Irã gera o equivalente a bilhões de dólares a cada ano por meio da venda de petróleo para financiar suas atividades regionais desestabilizadoras e apoiar vários grupos terroristas regionais, incluindo Hamas, Houthis e Hezbollah”, relatou o comunicado do Departamento de Estado.
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O presidente norte-americano suspendeu na segunda-feira 3 a ajuda militar, dias depois da discussão com Zelensky na Casa Branca. A postura de Trump revirou o apoio dos EUA à Ucrânia e aos aliados de Washington, como os países europeus, de forma mais ampla.
Despertou neles preocupações sobre uma possível mudança de direção dos EUA em relação à Rússia. Algo que já está ocorrendo. Para a Rússia, a mudança é positiva. E para Israel, até prova em contrário, também.
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