Mais da metade dos brasileiros vê aumento na criminalidade nos últimos 12 meses

A percepção de insegurança tomou conta do país. Mais da metade dos brasileiros — quase 60% — acredita que a criminalidade aumentou em sua cidade ao longo do último ano, segundo uma pesquisa do Datafolha.

O levantamento, conduzido entre os dias 1º e 3 de abril, ouviu mais de 3 mil pessoas em 172 municípios e confirma o sentimento de vulnerabilidade que atravessa classes sociais, faixas etárias e orientações políticas distintas.

O cenário traçado pelo instituto mostra que a sensação de piora na segurança pública é disseminada tanto entre homens quanto entre mulheres, jovens e idosos, pobres e ricos. Mesmo eleitores com preferências opostas, como os que votam no presidente Lula ou no ex-presidente Jair Bolsonaro, compartilham a impressão de que a violência está em ascensão — ainda que em proporções diferentes.

Um país em alerta

Capitais e regiões metropolitanas lideram os relatos de aumento da criminalidade, com 66% dos entrevistados afirmando que a situação se agravou. No interior, o índice também é expressivo: 51% dizem perceber mais violência. A Região Sudeste concentra os piores indicadores de percepção negativa, enquanto o Norte e o Centro-Oeste apresentam os menores níveis de apreensão.

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Entre as mulheres, a sensação de insegurança é mais intensa: 62% dizem ter notado crescimento da criminalidade, contra 52% dos homens. Já no recorte por renda, o sentimento de desproteção aparece tanto entre os mais pobres quanto entre os mais ricos. Entre quem ganha mais de dez salários mínimos, 64% relatam aumento da violência. No grupo com renda familiar inferior a dois salários, esse percentual é de 59%.

Mesmo em áreas mais próximas da realidade cotidiana, como o próprio bairro, a insegurança é percebida com clareza. Para 44% dos entrevistados, houve crescimento da criminalidade na vizinhança. Apenas 19% disseram notar melhora, enquanto 38% acreditam que nada mudou.

O cenário traçado pelo instituto mostra que a sensação de piora na segurança pública é disseminada tanto entre homens quanto entre mulheres, jovens e idosos, pobres e ricos | Foto: Dados do Datafolha/Revista Oeste
O cenário traçado pelo instituto mostra que a sensação de piora na segurança pública é disseminada tanto entre homens quanto entre mulheres, jovens e idosos, pobres e ricos | Foto: Dados do Datafolha/Revista Oeste

A criminalidade nas ruas

Os dados também expõem a prática de crimes concretos. Um em cada dez brasileiros teve o celular roubado nos últimos 12 meses. Nas capitais e grandes centros urbanos, a incidência é maior. O Sul é a única região do país onde o índice de roubos ficou abaixo da média, com 6%.

O número estimado de vítimas impressiona: são mais de 14 milhões de brasileiros impactados por esse crime em apenas um ano. E o prejuízo não é apenas material. A perda de um smartphone hoje envolve acesso a dados bancários, documentos digitais, aplicativos de trabalho, redes sociais e uma vida inteira armazenada em um dispositivo que, uma vez subtraído, passa a ser usado como ferramenta de golpes.

Um levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública no ano passado calculou um prejuízo superior a R$ 70 bilhões aos brasileiros por causa de crimes digitais e furtos de celulares — um sinal claro da transformação da criminalidade.

As estatísticas oficiais versus a percepção pública

Apesar do sentimento generalizado de insegurança, os dados consolidados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram uma redução de 10% nos roubos e furtos de celulares em 2023. No entanto, o volume de casos permanece elevado: a cada dois minutos, um celular é furtado ou roubado no Brasil.

Paralelamente, os crimes de estelionato — conhecidos popularmente como golpes — dispararam 360% entre 2018 e 2023, alcançando quase 2 milhões de registros formais em apenas um ano.

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Esse descompasso entre os números oficiais e a percepção popular pode estar relacionado ao efeito psicológico das redes sociais e da imprensa. Para 62% dos entrevistados, vídeos de crimes brutais — como assassinatos e assaltos — ajudam a entender o cenário da violência no país. Mas 73% afirmam que a exposição constante a esse tipo de conteúdo os faz sentir que podem ser a próxima vítima.

Criminalidade em pauta

A segurança pública se transformou em tema obrigatório no debate político, tanto no Congresso quanto nas prefeituras. O governo Lula, por exemplo, chegou a propor a chamada PEC da Segurança. Entre outras medidas, a proposta visa a ampliar o poder da Polícia Federal e a padronizar os sistemas de registro de ocorrências em todo o país. O texto ainda tramita em meio a críticas sobre sua efetividade.

No plano municipal, por sua vez, a decisão do Supremo Tribunal Federal que reconheceu o poder de polícia das guardas municipais provocou discussões sobre os limites da atuação desses agentes e a sobreposição com as forças estaduais — Polícia Civil e Polícia Militar.

Em São Paulo, a gestão de Ricardo Nunes (MDB) transformou o monitoramento urbano com reconhecimento facial em trunfo político. O programa Smart Sampa, por exemplo, já resultou na prisão de foragidos da Justiça e vem sendo utilizado como vitrine de eficiência administrativa.

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