Turismo de luxo pressiona Ushuaia e ameaça futuro dos moradores

O aumento significativo do turismo de alto padrão em Ushuaia, cidade argentina localizada no arquipélago Terra do Fogo, tem gerado impactos drásticos para os moradores locais. O jornal Folha de S.Paulo divulgou as informações nesta sexta-feira, 1º de maio.

A temporada de verão atrai milhares de estrangeiros interessados em cruzeiros antárticos que custam até US$ 18 mil. A demanda aquece a economia, mas sobrecarrega os recursos da cidade e eleva o custo de vida de forma insustentável.

De janeiro a fevereiro, cinco cruzeiros simultâneos ancoraram no porto da cidade, lotados de passageiros que viajam à Antártida em expedições de dez dias.

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Em apenas uma década, o número de turistas saltou de 35 mil para 111,5 mil por temporada, e a expectativa é de mais um crescimento de 10% neste ano, segundo autoridades portuárias.

A maioria dos viajantes passa uma ou duas noites em Ushuaia antes do embarque, optando por imóveis alugados por plataformas como o Airbnb, em vez dos hotéis tradicionais.

A cidade oferece cerca de 6.200 leitos, divididos entre hospedagens rústicas, resorts cinco estrelas e um hotel no estilo cápsula japonesa. Mas a infraestrutura não acompanha o ritmo da procura — nem para turistas, nem para trabalhadores.

Nolly Ramos León, mãe solo de quatro filhos, vive em um barraco sem luz ou saneamento, em uma encosta com vista para o porto.

Como camareira de hotel, ela ganha cerca de US$ 500 mensais e precisa caminhar por trilhas de terra perigosas no inverno para chegar ao trabalho. Assim como ela, pelo menos 10% da população vive em áreas improvisadas, à margem da bonança turística.

“Demoramos muito tempo para construir esta casa”, disse Nolly. “Às vezes nem tínhamos dinheiro para comer, porque eu estava investindo nessa casa.”

Investimentos de luxo aprofundam crise habitacional

Na tentativa de atrair turistas de alto poder aquisitivo, a rede Meliá Hotels vai erguer um resort de luxo avaliado em US$ 50 milhões nos arredores da cidade, com spa, piscinas e auditório.

A aposta em infraestrutura premium busca convencer os passageiros a prolongar a estadia em Ushuaia. Mas, para os moradores, essa expansão significa mais pressão sobre o já frágil sistema habitacional.

Desde 2010, a população cresceu 45%. O espaço urbano, cercado pelos Andes e pelo Canal de Beagle, impõe limites naturais à construção civil, tornando os imóveis escassos e caros.

Um apartamento simples custa, em média, 900 mil pesos — o equivalente a cerca de R$ 5 mil. Famílias comprometem até 80% da renda com aluguel.

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“Chegará um momento em que só turistas estarão em Ushuaia”, afirma Maria Elena Caire, locutora de uma rádio local.   

A proximidade geográfica torna Ushuaia o principal ponto de partida para expedições rumo à Antártida — 90% dos cruzeiros saem dali. Para agências como a Freestyle Adventure Travel, a viagem é comparável a visitar outro planeta.

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