Documentos localizados pela Polícia Federal conectam integrantes da antiga cúpula do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) ao empresário Antônio Carlos Camilo Antunes. Conhecido como “Careca do INSS”, ele é citado como figura central em um esquema de corrupção que autorizava descontos ilegais em benefícios previdenciários.
As autoridades identificaram Antunes como intermediador entre associações e o INSS. Ele exercia influência dentro do instituto por meio de servidores cooptados, com a intenção de liberar grandes volumes de descontos. De acordo com os investigadores, ele movimentou R$ 53,58 milhões recebidos de entidades associativas e empresas terceiras, além de usar empresas registradas em seu nome para oferecer supostos serviços de consultoria a aposentados.
Documentos foram apreendidos
Durante as ações de busca, os agentes encontraram cadernos com anotações que sugerem repasses ao ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. As anotações estavam no escritório de uma das empresas de Antunes e indicam possíveis pagamentos ao então dirigente, demitido em meio à operação. A informação foi revelada pelo jornal O Globo.
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As investigações revelam que o lobista destinou R$ 9,32 milhões a servidores e empresas associadas a antigos gestores do INSS. A defesa de Antunes, representada pelo escritório Moreira & Schegerin Advogados, afirmou que não comenta casos sob sigilo. Ressaltou, no entanto, que as acusações não refletem a verdade dos fatos e demonstrou confiança na apuração para comprovar a inocência do empresário.
No dia 24 de abril, um dos contratos investigados foi encontrado no escritório de Eric Fidelis, no Recife. O documento está vinculado à Prospect Consultoria, uma das empresas controladas por Antunes. Eric é filho de André Paulo Felix Fidelis, ex-diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão do INSS, que permaneceu no cargo até julho de 2024.
Os investigadores identificaram que a Prospect recebeu R$ 11 milhões de uma associação com vínculo formal com o INSS
Os investigadores identificaram que a Prospect recebeu R$ 11 milhões de uma associação com vínculo formal com o INSS. Essa entidade passou a ser investigada por aplicar descontos não autorizados em benefícios. O contrato com a empresa de Antunes reforça a conexão entre o lobista e os núcleos operacionais do esquema.
A operação, batizada de Sem Desconto, ainda revelou pagamentos ao advogado de André Fidelis. A Polícia Federal afirmou que os valores enviados por Antunes podem configurar vantagem indevida por atos praticados no exercício da função pública. A defesa do ex-diretor não respondeu aos questionamentos.
Em outro endereço, desta vez no Recife, em Pernambuco, os policiais apreenderam oito notas fiscais da Xavier Fonseca Consultoria. A empresa está registrada em nome de Maria Paula Xavier da Fonseca Oliveira. As notas foram emitidas entre 31 de julho de 2023 e 9 de fevereiro de 2024. O CNPJ da empresa foi registrado em 7 de julho de 2023, segundo a Receita Federal.
Maria Paula é irmã de Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, procurador-geral do INSS afastado temporariamente. Além das notas já citadas, foram achados no local outros documentos fiscais emitidos pela mesma empresa e endereçados a um escritório ligado a outro operador do esquema. As datas desses documentos variam entre março e outubro de 2024.
Empresas relacionadas à mulher de Virgílio também aparecem na investigação. Elas teriam recebido R$ 7,54 milhões de Antunes, conforme a representação da Polícia Federal. O procurador é citado por emitir parecer favorável ao desconto em mais de 34 mil benefícios em nome da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura). A decisão foi tomada mesmo depois da manifestação contrária da Procuradoria do INSS.
A defesa de Virgílio informou que ainda não teve acesso aos documentos mencionados no inquérito. Por isso, preferiu não se pronunciar sobre o conteúdo da investigação.
Entre os anos de 2019 e 2024, as associações aplicaram R$ 6,3 bilhões em descontos sobre benefícios do INSS
Entre os anos de 2019 e 2024, as associações aplicaram R$ 6,3 bilhões em descontos sobre benefícios do INSS. Ainda não se sabe qual parte desse total ocorreu de maneira ilegal. O dado foi divulgado pela Controladoria-Geral da União em parceria com a Polícia Federal.
Um levantamento com 1,2 mil beneficiários revelou que 97,6% dos entrevistados não autorizaram os descontos. A Ouvidoria do INSS também recebeu quase 5 mil queixas e mais de 700 denúncias entre janeiro de 2024 e fevereiro de 2025, segundo informações prestadas por Stefanutto em resposta a um requerimento.
O post INSS: PF apreende documentos que apontam ligação entre lobista e ex-diretores do órgão apareceu primeiro em Revista Oeste.