A Advocacia-Geral da União (AGU) deixou de incluir, na ação que busca bloquear R$ 2,56 bilhões do esquema de descontos ilegais no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), pelo menos quatro entidades suspeitas de funcionar como fachadas ou de pagar propina a servidores.
O governo anunciou a medida na quinta-feira, 8, como parte do esforço para ressarcir os aposentados lesados — mas evitou atingir os principais beneficiários do esquema.
Embora tenha destacado 12 entidades como parte do “núcleo da fraude do desconto irregular”, a AGU ignorou outras oito associações que, segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), não possuem sequer um filiado que reconheça ter autorizado a adesão.
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Em nota, o órgão argumenta que usou como critério a Lei Anticorrupção. Segundo a justificativa, a escolha dos alvos prioriza entidades ligadas ao uso de laranjas ou ao pagamento de vantagens indevidas a servidores do INSS.
Entre as entidades excluídas da ação está o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical (Sindnapi), presidido por Frei Chico — irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O sindicato está entre os que mais arrecadaram nos últimos anos com os descontos compulsórios aplicados aos aposentados. Além disso, ele é citado em documentos com indícios de irregularidade.
Outra associação, por exemplo, que escapou da mira da AGU foi a Unsbras, ligada ao empresário Maurício Camisotti.
Ele movimentou R$ 43 milhões com o esquema, segundo as investigações, e repassou pelo menos R$ 12 milhões ao lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”. A AGU deixou a Unsbras de fora.
AGU também exclui empresas ligadas a servidores
A associação, presidida pelo pai de um de seus executivos, aparece em quebras de sigilo como responsável por um repasse de R$ 4,7 milhões à empresa Benfix, controlada por Camisotti. A Benfix também transferiu valores para o “Careca do INSS”.
A Amar Brasil Clube de Benefícios, presidida por Américo Monte, firmou contrato com o INSS em 2022, durante a gestão de José Carlos de Oliveira no Ministério da Previdência.
Desde então, arrecadou R$ 324 milhões com descontos. A PF identificou que a entidade repassou R$ 25 milhões ao filho do presidente e que, só da Amar Brasil, saíram ao menos R$ 70 milhões para empresas diversas — algumas ligadas a parentes de servidores do INSS. A contabilidade dessas operações chama atenção. O mesmo contador presta serviços à Amar Brasil.
Ex-executivos do INSS constam em lista de repasses milionários
Além disso, atende empresas registradas em nome de parentes de André Fidelis, ex-diretor de Benefícios do INSS, e de Virgílio Oliveira Filho, ex-procurador-geral do instituto. Ambos são investigados por suposto recebimento de propina. Domingos Sávio de Castro, sócio de Antonio Carlos Antunes, também escapou da ação da AGU.
Ambos aparecem como beneficiários de repasses milionários feitos por associações conveniadas ao INSS. Uma delas, a Abrasprev, transferiu R$ 540 mil diretamente a Castro. Como resultado, a PF identificou que Castro e Antunes também dividem sociedade na ACDS, empresa de telemarketing.
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Segundo os investigadores, o nome seria uma junção das iniciais dos dois. Outras empresas de Castro mantêm repasses para Thaisa Hoffmann Jonasson, companheira de Virgílio Oliveira Filho, ex-procurador do INSS. Além das empresas, Castro movimentou diretamente R$ 1 milhão em transferências para o sócio.
Na mesma conta bancária, recebeu R$ 4,8 milhões da Unaspub — entidade que, esta sim, entrou na ação da AGU. Ao todo, Castro movimentou mais de R$ 10,5 milhões, conforme apuração da Polícia Federal.
Associação com presidente fantasma faturou R$ 99 milhões
Outra entidade com sinais de fraude, mas ignorada pela AGU, é a Associação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas da Nação (Abapen).
Um aposentado de Recife, alvo de diversas ações na Justiça paulista, preside a associação. Domingos Sávio atua como seu procurador. Nenhum dos 27 associados ouvidos pela CGU declarou saber que fazia parte da entidade.
A Abapen passou a atuar com descontos em novembro de 2023, depois da autorização de André Fidelis. Desde então, já faturou mais de R$ 99 milhões.
A CGU identificou movimentações suspeitas em duas entidades que a AGU ignorou na ação. A primeira, a Contag, é presidida por Aristides Veras Santos, irmão do deputado Carlos Veras (PT-PE).
Entre 2019 e 2024, a entidade acumulou R$ 2 bilhões em descontos de aposentadorias. Parte do dinheiro foi destinado a uma agência de viagens, em operação considerada atípica.
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A segunda é a Confederação Nacional de Agricultores Familiare, que multiplicou em 57 mil por cento o valor arrecadado com descontos entre 2019 e 2023.
Inclusive, a entidade tem ligações com o ex-ministro José Carlos Oliveira e mantém relações com o operador Cícero Marcelino, citado em movimentações milionárias sob suspeita de lavagem de dinheiro.
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