Em 2021, o Brasil assistiu atônito à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19. Parida a fórceps por uma ordem do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), a CPI virou uma arma da esquerda contra o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em vez de investigar os bilhões desviados no “Covidão dos Estados”, a comissão desperdiçou meses demonizando o tratamento precoce, linchando médicos e culpando o então presidente pelas mortes na pandemia.
Quatro anos depois, um novo palco de disparates se estabeleceu no Parlamento: a CPI das Apostas Esportivas, apelidada de CPI das Bets. Criada para investigar possíveis irregularidades no setor de apostas on-line, a comissão virou um espetáculo de entretenimento político. Influenciadores digitais têm sido a atração principal, enquanto personagens relevantes, como lobistas, seguem longe dos holofotes.

A influenciadora Virginia Fonseca, que tem contrato publicitário com plataformas de apostas, compareceu ao Senado e foi poupada de perguntas mais duras. Não bastasse, Virgínia apontou contradição da Casa ao regulamentar as bets, referiu-se à relatora da CPI como “Soraya”, confundiu o microfone com o canudo do copo de pré-treino e foi “tietada” pelo senador Cleitinho (PL-MG), que sacou o celular e pediu uma chamada de vídeo da influencer com a esposa dele — depois de críticas, o congressista se desculpou.
No dia seguinte, a CPI ouviu Rico Melquiades, ex-participante do reality show A Fazenda, que, em uma demonstração, chegou a ganhar R$ 120 no “jogo do Tigrinho”. A CPI recebeu até o padre Patrick, popular nas redes sociais. Nenhum deles é investigado formalmente ou tem ligação direta com suspeitas que envolvem o setor. As participações dos influencers viralizaram nas redes.
Enquanto isso, o lobista Silvio de Assis, ao qual integrantes da CPI suspeitam de ser autor de supostos pagamentos para “evitar convocações” na comissão, segue ignorado. Ele manifestou interesse em depor. O senador Eduardo Girão (Novo-CE) apresentou requerimento para convocá-lo. O pedido, porém, nunca entrou na pauta.

Denúncias e silêncio na CPI das Bets
Assis aparece em investigações desde 2024. Naquele ano, o lobista foi citado em uma reunião entre o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o então presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A conversa teria tratado do suposto uso político da CPI: empresários do setor estariam pagando para não serem convocados. Em troca, ganhariam “invisibilidade institucional”.
Girão aponta o lobista como peça-chave do suposto esquema. Segundo o senador, Assis articulava acordos de silêncio. Ele afirma, ainda, que dois parentes do lobista ocuparam cargos no gabinete da senadora Soraya.
“Dois parentes de Assis, sua irmã e seu genro, ocuparam cargos no gabinete da senadora Soraya”, escreveu Girão em requerimento oficial. Um deles, David Vinícius Oruê de Oliveira, ainda atua como assessor no gabinete.
Soraya nega eventuais irregularidades. “A senadora Soraya aguarda, com urgência, o posicionamento do presidente da comissão para os requerimentos serem apreciados”, afirmou a assessoria da parlamentar em nota a Oeste. “Reforça que não tem nada a esconder e seguirá trabalhando com transparência, ética e compromisso com a verdade.”
Governo Lula
Outro personagem citado por Girão é Giovanni Rocco Neto, nomeado secretário nacional de Apostas Esportivas em setembro do ano passado. Antes do cargo, presidia a Associação em Defesa dos Jogos e Apostas — entidade ligada ao lobby de pequenas casas de apostas.
Rocco Neto é ligado a empresários do setor e tem histórico de articulação política. Sua nomeação gerou críticas entre parlamentares que questionam a influência do lobby nas decisões do governo. A pasta que ele comanda tem papel estratégico na regulação das apostas esportivas, setor que movimenta bilhões anualmente.
Até o momento, ele não foi chamado pela CPI para prestar esclarecimentos, embora haja um requerimento de Girão para isso.
Nos bastidores da CPI, parlamentares dizem que Neto é o elo entre o governo Lula e o lobby das apostas. Segundo fontes próximas à CPI, sua nomeação como secretário nacional não só favoreceu interesses privados, como também dificultou investigações sobre o setor.
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